“De onde vem seu celular?”

“♫ Os alquimistas estão chegando/ Estão chegando os alquimistas” (Os alquimistas estão chegando, Jorge Ben Jor)

Poucas pessoas, hoje, não possuem ou utilizam um aparelho celular, mais especificamente um smartphone (ou telefone inteligente). Tirando comunidades remotas ou muito pobres, em (quase) todos os lugares estão (quase) todos conectados por esses pequenos aparelhos que transformaram o estilo de vida da humanidade.

Mas, para aquém da internet, o aparelho vem de onde?

O mundo nas suas mãos.

Quando me refiro ao mundo em suas mãos, não falo da possibilidade real de conhecer tudo ou ter contato com pessoas nos quatro cantos do planeta pelos aplicativos dos smartphones.

Refiro-me à composição física do aparelho. Já parou para pensar tudo o que tem nele? Faça um exercício rápido. Do que é feito o seu aparelho celular? Vidro, plástico, metais? De onde vem esse material? Europa, Ásia, África, Américas?

Pois bem. Muita gente nunca pensou sobre isso ou pensou de maneira relativamente superficial. Então? Relacionou mentalmente quantos materiais? O que você encontraria se abrisse seu celular agora? E de onde veio tudo isso?

Coisas que você nem imagina.

Anote aí que a lista é grande. Provavelmente muito maior do que você imaginava: plástico (que vem do petróleo, e que pode ser principalmente o policarbonato ou acrilonitrila), vidro (silício), ferro, boro, alumínio, cobre, chumbo, fósforo, zinco, estanho, níquel, lítio, cobalto, cádmio. Tem até platina, ouro e prata (muito pouco, é verdade). Tem também mercúrio, arsênico e cromo. Alguns que só os que estudaram a fundo a tabela periódica vão lembrar, com nomes bem estranhos: berílio, paládio, lantânio, térbio, neodímio, gadolínio, praseodímio, cério. É sério! E muito mais. Passam de 50 elementos.

No mundo, calcula-se que cerca de 1,5 bilhão de unidades são vendidas por ano, com, estima-se, mais de 14 milhões de empregos diretos envolvidos.

Obviamente já dá para imaginar que toda aquela matéria-prima não vem do mesmo lugar. O Congo fornece quase 75% do cobalto do planeta. Dos metais raros (alguns daqueles últimos que citei ali em cima), mais de 70% vêm da China, mas também produzem Austrália, EUA, Mianmar, Rússia, Índia, Brasil, Tailândia, Burundi, Vietnã e Malásia.

E esse material vai para outros países para se transformarem em peças. Só como exemplo, o iPhone utiliza componentes de fornecedores de 43 países dos cinco continentes (Coreia do Sul, Japão, China, Alemanha, Suíça, Taiwan – que é a maior produtora do cérebro do celular, o processador – são alguns deles). E não é incomum que as indústrias desses países recebam partes dos componentes de suas fábricas de outros países.

Neste emaranhado geopolítico há exploração de trabalho infantil ou análogo ao escravo, ou que causam grandes prejuízos ambientais. Algumas empresas exigem auditorias, outras nem tanto, mas isso é tema para um texto específico.

Agora você sabe que discussões geopolíticas, sociais e ambientais, no mínimo, estão na palma da sua mão. E, considerando o constante lançamento de novos modelos, outra coisa deve ser pensada: para onde vão todos esses elementos químicos dos aparelhos velhos não mais utilizados?

Fica a reflexão, pois só na música do Jorge Bem Jor os alquimistas evitam relações com pessoas de temperamento sórdido…