“Bigodes de foca, nariz de tamanduá, bico de pato”

Por: Raphael Rocha Lopes

19/10/2021 - 14:10 - Atualizada em: 19/10/2021 - 14:30

“♫ Se tem bigodes de foca/ Nariz de tamanduá// Também um bico de pato/ E um jeitão de sabiá// Mas se é amigo” (É tão lindo, Turma do Balão Mágico).

Criticar pejorativa ou negativamente é uma das coisas que o ser humano mais faz de melhor, inclusive com diversos níveis de crueldade. As diferenças incomodam e, muitas vezes, esses incômodos acabam contaminando outras pessoas. E, também muitas vezes, críticas se transformam facilmente em discursos de ódio.

As redes sociais têm sido um grande catalizador dos discursos de ódio nos tempos atuais. Considerando que já está constatado que elas, as redes sociais, por meio de seus algoritmos, dão mais visibilidades (leia-se curtidas e comentários) às postagens indignadas, não é raro ver discursos moderados virarem rancorosos.

O exemplo animal

Essa semana vi um vídeo muito interessante. Uma galinha foi atacada por uma ave de rapina (não sei se um pequena águia ou gavião, ou algo parecido). Impressionantemente apareceram outras aves e até um cabrito para salvar e resgatar a galinha. E conseguiram. Enquanto não conseguiram fazer a ave soltá-la e ir embora, não desistiram. No melhor exemplo A revolução dos bichos, de George Orwell.

Animais completamente diferentes em prol da defesa de um deles. No mundo humano a impressão que tenho é que estamos vendo cada vez menos cenas assim, de diferentes se ajudando, lutando por uma boa causa mesmo que suas ideias e ideais sejam divergentes.

Nariz de tamanduá e bico de pato

Na música de hoje, as (então) crianças cantavam sobre as diferenças e que todos são lindos apesar – ou por conta – dessas diferenças. Na música cantam que é tão lindo o diferente e pedem para deixar como está.

No mundo real, potencializado pela sensação de invisibilidade e impunidade do meio internético, as pessoas destilam seu ódio quando veem diferenças. Diariamente milhares, se não milhões, de postagens homofóbicas, transfóbicas, machistas, misóginas, gordofóbicas, racistas, intolerantes de qualquer natureza, são publicadas nas redes sociais.

Infelizmente, parcela dessas ameaças e xingamentos no meio virtual acabam pulando para o mundo real, com vítimas reais e, muitas vezes, fatais.

As pessoas ainda não compreenderam que das diferenças se forma uma sociedade mais justa e, além disso, se faz evoluir. Trancar-se em mundinhos limitados nunca trouxe progresso. Os exemplos históricos pululam.

Então, da próxima vez, na dúvida do diferente, faça como a Turma do Balão Mágico. Ficará tudo mais leve.