“As redes sociais deram voz a legiões de imbecis”

“A televisão me deixou burro, muito
burro demais/ Agora todas coisas
que eu penso me parecem iguais// A
mãe diz pra eu fazer alguma coisa,
mas eu não faço nada// E agora
eu vivo dentro dessa jaula junto dos
animais” (Televisão, Titãs).

frase do título não é minha, é do filósofo italiano Umberto Eco, falecido em 2017. Traz uma grande
verdade, e é, como todas grandes verdades, objeto de reflexão, discussão e discordância. Hoje, pelas redes sociais, muitos falam (escrevem) sem pensar e são doutores em quase tudo, donos da
razão.

Essas pessoas não conseguem refletir sobre pontos de vista diferentes e, não poucas vezes, a diferença de ideias se torna motivo para ofensas e agressões pessoais. Racionalidade, infelizmente, não tem sido a tônica nas discussões pelo meio virtual.

As pessoas perderam a serenidade e o poder da argumentação educada e inteligente. Em verdade, algumas pessoas estão definitivamente com preguiça de pensar. É muito mais cômodo se apegar a uma opinião rasa e ofender o interlocutor do que pensar, analisar e sopesar os argumentos.

Pensar cansa; exige estudo, informação e disposição. Ademais, não interessa o que está no livro ou o que a história ensinou. Interessa que eu penso assim e pronto. Por quê? Porque sim, oras! 

Há, porém, dois grandes problemas nessa forma de raciocínio. Em primeiro lugar, a pessoa corre o risco sério de passar por ignorante (ou imbecil, como diria Eco), provocando a tal vergonha alheia (salvo se estiver em meio à legião dos que sabem tudo).

O segundo problema pode ser mais convincente. Não é a dor de consciência, mas a dor de bolso. Xingar, ofender, mentir, caluniar, difamar, criar fake news, todos sabem, pode gerar processos criminais e indenizações por danos morais.

O que talvez poucos saibam é que replicar ou compartilhar postagens ofensivas, caluniosas ou mentirosas também tem começado a ser entendido pelos tribunais como motivo de condenação por danos morais.

Isto é, quem compartilha uma informação indevida pode ter que arcar com a indenização  juntamente com o criador da postagem ofensiva ou mentirosa. Tem-se aventado inclusive a  possibilidade de condenar até quem simplesmente curte tais manifestações.

Se o senso de responsabilidade e respeito não prevalecem, lamentavelmente o judiciário será a régua
limitadora para os mais abusados ou desavisados.

Cabe-nos contribuir para que, em versão mais moderna, os Titãs não passem a cantar que a internet
nos deixou burro demais e que agora vivemos na frente dessa tela como animais.