As eleições, as urnas, a leviandade e os surdos

foto. Roland Schwerdhöfer/Pixabay

Por: Raphael Rocha Lopes

26/10/2022 - 09:10

“♫ Tanta gente se esqueceu/ Que a verdade não mudou/ Quando a paz foi ensinada/ Pouca gente escutou// O amor é importante// Não importam os motivos da guerra/ A paz ainda é mais importante que eles/ Esta frase … se perdeu no labirinto/ Dos pensamentos poluídos pela falta de amor/ Muita gente não ouviu porque não quis ouvir/ Eles estão surdos!” (Todos estão surdos, Roberto Carlos).

A tecnologia está presente em todos os campos da nossa vida contemporânea. Nas conversas com os amigos, no ambiente profissional, nas transações financeiras, no lazer e até nas eleições.

Tudo e cada vez mais está ligado à inovação, à disrupção, à evolução tecnológica a passos nunca vistos na história. É uma tendência aparentemente irreversível, embora muita gente boa esteja alertando sobre a necessidade de tirarmos um pouco o pé do acelerador…

Ano de eleições

Todo ano de eleições é a mesma coisa. Muitas promessas de todos os candidatos; nada ou quase nada de novo nas campanhas; muita gente frustrada (disfarçadamente ou não) quatro anos depois. Reza a lenda que foi Churchill que disse que “a democracia é a pior forma de governo, fora todas as outras”. No final das contas, é isso mesmo. O mundo idílico e utópico é bem diferente do real.

E alguns políticos se esmeram em transformar o processo eleitoral, que deveria ser a comemoração da democracia, da pluralidade de ideias e dos debates honestos, em momentos cada vez menos idílicos, contaminando mentes e corações de seus séquitos.

Antes, vigoravam os textos apócrifos em papel nas esquinas das cidades nas vésperas das eleições. Uma covardia sem tamanho. Hoje, reinam as fake news nas ondas da internet ao longo das eleições. Uma covardia ainda maior.

As urnas e os levianos

O cidadão brasileiro médio é educado, honesto, avesso a arroubos públicos, familiar, e, em regra, tende a confiar nos outros. Assim, acabam vítimas, principalmente as pessoas mais velhas, da desinformação (não vou entrar aqui no viés da confirmação do próprio pensamento de parcela da sociedade que compartilha mentiras e boatos).

As urnas eletrônicas têm sido alvo de muita desinformação nos últimos anos. E nada foi efetivamente comprovado contra elas. A propósito: apesar de muita gente acreditar que apenas o Brasil e mais um ou outro país usam essa tecnologia nas eleições, é importante esclarecer que o voto eletrônico já é utilizado em mais de 40 países, total ou parcialmente. Canadá, França, Bélgica, Suíça, Índia, Japão, Coréia do Sul, Estados Unidos são alguns exemplos. É importante que o brasileiro pare com essa síndrome de cachorro vira-lata: temos uma tecnologia que faz inveja a muitos países. Por outro lado, é necessário entender que cada país ou região do mundo tem sua cultura e que deve ser respeitada.

Porém, o que aborrece de verdade é a avalanche de desinformação que coloca em dúvida a integridade das urnas eletrônicas no Brasil. Há muito se fala disso; e há quatro anos se bate com ainda mais constância no sistema. Como nada foi efetivamente comprovado, os políticos de carreira que insistem neste argumento, pelo menos quanto a isso, parecem estar sendo levianos.

O político de carreira que já foi eleito ou não pela urna eletrônica não tem o direito de colocar em xeque o que não pode provar. Até as forças armadas, sérias que são, não apresentaram nada que depusesse contra o sistema. Nem os partidos políticos, de situação ou oposição, que são os maiores interessados em impugnar o que quer que fosse, quando perdem as eleições.

Que o cidadão comum caia na lábia de políticos experientes, entendo. Que políticos experientes queiram conquistar a alma dos incautos com este argumento, é aproveitar-se da ingenuidade do brasileiro.