“Atribui ao outro a culpa por
não ter mais/ Declara as uvas
verdes, mas não fi ca em paz/
Porque o fracasso lhe subiu à
cabeça” (Fracasso, Pitty).
Semana passada uma notícia vol- tou a circular nos aplicativos de comunicação (WhatsApp, Telegram e afins). Era a história da condenação por danos morais da administradora de um grupo de WhatsApp. A justificativa?
Ela não interveio o suficiente para evitar que a vítima (autora da ação) fosse tripudiada no grupo. E ainda utilizou alguns emojis (aquelas carinhas e imagens que tem no aplicativo) frustrando ainda mais a vítima.
Essa história me lembrou uma fábula de Esopo, aquela da raposa que não alcançava as uvas e, por isso, a desdenhava. Também me trouxe à memória Homer Simpson, aquele personagem que William Bonner disse que era o estereótipo dos telespectadores dos jornais da sua emissora.
Em certo episódio, Homer falou: “A culpa é minha, então a coloco em quem eu quiser”. O que me aflige neste contexto nem é a questão jurídica em si. Claro, excessos devem ser punidos na esfera indenizatória e, eventualmente, até na criminal.
Ninguém deve se submeter a constrangimentos e achar que isso é normal. Ofensas que passam dos limites devem, sim, ser coibidas das maneiras que a lei permite. Mas o que me incomoda nesse
caso específico é a condenação da administradora por, supostamente, não ter feito algo como excluir o ofensor do grupo e por ter publicado as tais carinhas ao longo da conversa.
A humanidade está em um nível de melindre absurdo. Reflexo da geração mimimi comentada outro dia, talvez. Mais do que isso, condenar porque a cidadã postou alguns emojis que, como todos sabem, nem sempre é interpretado da mesma forma entre o transmissor e o receptor, parece-me por demais exagerado.
O fato é que, independentemente da gravidade das ofensas nesse caso, as pessoas, em geral, perderam a noção da educação e do respeito. E não me refiro, aqui, propriamente à educação digital, mas à educação como um todo.
Muitas pessoas faltam com o respeito pura e simplesmente. Muitas pessoas sentem-se doutoras sobre o que nunca leram na vida. Muitas pessoas não sabem e não querem saber sobre refletir, pensar antes de agir.
E, no mais das vezes, são as mesmas pessoas que não sabem receber uma crítica e tendem a reclamar de tudo. Como cantou a Pitty, são pessoas cujo fracasso tomou conta de suas mentes, e vivem atribuindo aos outros a culpa por não progredirem ou não terem o que querem. Não têm
espelhos. Não gostam das uvas que não alcançam.
Mas, tudo bem, afinal a culpa é deles, e eles podem colocar em quem quiserem, não é verdade?
