O que esperam conseguir pelo uso de molotovs?

Por: Pedro Leal

06/09/2016 - 14:09 - Atualizada em: 06/09/2016 - 14:10

Com a onda de protestos contra o recém empossado presidente Michel Temer, irrompeu nas redes sociais e nas manifestações um desejo preocupante: o de retribuir a violência estatal com mais violência. Não foram poucas as sugestões (e as postagens de receitas) de coquetéis molotov, por ora rejeitadas pelos movimentos. Seus proponentes, no entanto, veem a rejeição da violência como “covardia”.

Aqueles que sugerem o uso de molotovs como parte dos protestos contra Temer ignoram uma coisa muito importante: De forma alguma a ideia de jogar explosivos improvisados é comparável a “quebrar umas vidraças” ou “queimar um cone de trânsito”. Não lhes ocorre o risco de danos colaterais, a possibilidade de alastramento das chamas ou o fato que isso é SIM um atentado à bomba.

Mas julgando pelo discurso de muitos dos postadores de receita de molotov pelo Brasil afora, não é que ignorem: é que, da mesma maneira que seus inimigos na direita não se importam com os feridos pela repressão, eles não se importam com os danos causados pela “revolução” (para a qual não tem planos – o que virá depois, os mais “revolucionários” não pararam para pensar). Tampouco se contentarão somente com a proposta de Molotovs – tendo em vista que já há quem ache isso insuficiente.

Em alguns grupos, já há quem poste receitas para bombas de fragmentação improvisadas. Da mesma maneira, há quem incite seus companheiros a irem armados para os protestos. Há quem clame pelo assassinato de policiais, pela morte de parentes de políticos, pela destruição do “Inimigo”, que ache que a solução para a situação presente do país seja queimar tudo e recomeçar do zero, ou que devam ser instituídos “tribunais do povo” (pois as “leis burguesas” – como direito de defesa – não servem à revolução) e turbas de linchamento.

Extremistas sempre se fizeram presentes – mas agora tem ganho mais e mais voz, afagados por aqueles que acham que qualquer voz contra o sistema mereça carinho, e qualquer critica seja traição. Se os deixarem ter seus molotovs, não se contentarão. Irão escalar a violência ainda mais. Há motivo para usarem o Reinado do Terror como justificativa para seus impulsos destrutivos. Deixe-os exerce-los, e logo haverá quem ferozmente pergunta que covardia é essa que impede “a esquerda” de executar as famílias burguesas – se é que já não há. Afinal, já há na esquerda brasileira quem defenda o Estado Islâmico como “grito revolucionário”.

Até uns dois anos atrás, o radicalismo de direita – tanto liberal quanto conservadora – tinha que recorrer a contas falsas, perfis obscuros e vídeos editados para forjar flagras de militantes de esquerda prometendo violência. Agora, não precisam mais. A violência naturalizou-se. Ser contra ela, tanto na esquerda quanto na direita, passou a ser visto como “covardia” e “traição” para alguns.

E assim caminha a humanidade. Aos pretensos revolucionários que se creem capazes de convencer a população a unir-se a eles através de atos de violência, e assim derrubar o governo de Michel Temer, uma pergunta: o que vocês farão, quando seu governo revolucionário estiver no lugar, com as pessoas como vocês? O que farão com aqueles que, sentindo-se oprimidos por seu governo (se estão ou não sendo oprimidos não vem ao caso – movimentações políticas ocorrem pelo que as pessoas sentem, não pelo que lhes acontece de fato), se julgarem no direito de queimá-lo?

E mais importante, mais urgente e mais direto: o que farão quando, em resposta a sua violência (em resposta à violência estatal), as autoridades redobrarem sua violência? Que resultado sólido esperam atingir, além de dar validade à tese absurda de Michel Temer, de que vocês são um bando de baderneiros? Seu objetivo é mudar o país, escalar a violência, serem mártires, ou o que? O que esperam conseguir pelo uso de molotovs?