“Pedantismo cultural”

Por: Nelson Luiz Pereira

06/02/2022 - 21:02 - Atualizada em: 06/02/2022 - 21:09

Esse título foi o tema do último café com bobagens. A conversa discorria sobre as belíssimas edições do Femusc. Eu elogiava o alto padrão desse Festival, as brilhantes execuções, enfim, o orgulho de podermos desfrutar, gratuitamente, de tamanha riqueza cultural em nossa cidade. Mas antes de entrar no mérito da discussão, faço uma prévia indagação ao meu leitor: você já se deparou com aquele sujeito pedante, que vai a um concerto, peça de teatro, opera ou algo do gênero, mas não faz ideia do que se passa no palco?

Ele não está lá para absorver e se deleitar com o que é exibido. Está lá para transmitir uma egocêntrica mensagem do tipo: “eu também sou erudito, tá ligado mano?” Por ironia do destino, após se fecharem as cortinas e deixar o recinto, eu me deparei com um desses pseudo eruditos num café. – E então Nelson, o que você achou do concerto? – Achei espetacular – respondi. – Eu também gostei, mas, você não acha que aqueles caras eram todos loucos? – Quais caras? – indaguei. – Oras, aquela turma dos clássicos, Mozart, Beethoven, Bach, Vivaldi, etc. Inclusive o Mozart, mesmo cego, ainda compunha, pensa? – Não brother – retruquei.

Foi o Beethoven, que mesmo tendo ficado surdo quando adulto, compôs belíssimas obras, e uma delas foi a Nona Sinfonia. Por conta de sua acuradíssima memória e sensibilidade musical, ele conseguia compor na mente – complementei. – Mas foi isso que eu disse, não foi? – Não, você disse que o Mozart era cego – retifiquei. – Caramba, então o louco sou eu, desculpe – remendou. Mas me deixe te dizer outra coisa Nelson: não há como comparar a música clássica, tão elevada, tão envolvente, com muitas de nossas músicas brasileiras, ditas MPB. Cito como exemplo aquele drogado que morreu de tanta promiscuidade com homens, e muitos críticos o consideram um poeta. Que legado esse desnaturado deixou?

– Bem, pra mim ele deixou belas canções e composições poéticas, das quais algumas até tento cantar. Isso porque eu não determino ou classifico o talento artístico de ninguém, com base na vida particular. Senão vejamos, o que você me diz daquele irreverente cantor que fez, e continua fazendo, muito sucesso com sua voz singular e seu requebrado característico? – Ah, esse eu devo te confessar que aprecio muito. – Então não entendi seu critério de avaliação, pois esse que você diz gostar, namorou com aquele que você diz não gostar. E agora? – Ah Nelson, sei lá entende? – Sim, eu entendo, só não compreendo.