“O perigo da desinformação”

Foto: Eduardo Montecino

Por: Nelson Luiz Pereira

06/04/2019 - 05:04

Volto a um tema já tratado nesta coluna há um ano. Somos uma nação beirando os 210 milhões de habitantes, com 220 milhões de celulares, já superando, portanto, a marca de 1 smartphone per capita. Nos tornamos, subitamente, uma massa de produtores, consumidores e disseminadores de conteúdos graças ao ‘ecossistema’ web.

Esta informação não é fake. Nem se enquadraria como relativização de uma verdade. Tampouco como criação de uma realidade alternativa. Ela é fato comprovável e provém de pesquisas extraídas de fontes fidedignas e, aqui, publicada num veículo de comunicação reconhecido. No entanto, não é essa a dinâmica que rege a expressiva maioria dessa massa, tendo a sua disposição o denso cardápio de canais digitais.

Somamos a esses elementos, o perfil de intensa parcela da massa nacional, desprovida de senso crítico, e teremos o terreno fértil para proliferação da desinformação, cujo produto é a vulnerabilidade e polarização social. Então, nos vem a indagação: onde isso poderia nos levar?

Bem, temos registros históricos clássicos e notórios das consequências extremas que a banalização da mentira pode provocar numa sociedade. O stalinismo e o nazismo são exemplos bem ilustrativos e factuais. Mas me limito a conjecturar sobre as ameaças e oportunidades que esse fenômeno pode representar sobre o novo e bom jornalismo, enquanto bem social para uma democracia.

Esse cenário motivará duas posturas estratégicas determinantes por parte das organizações jornalísticas: i) a de ‘melhor se guiar’; ou ii) a de ‘se deixar guiar’. As orientadas pela oportunidade de ‘melhor se guiar’, concentrarão e incorporarão esforços na operação fact-checking de forma obstinada e meticulosa, preservando a integridade e credibilidade. Já, as que adotarem a postura contrária, seguirão engrossando o caldo da estupidez coletiva até sucumbirem.

Se já identificamos então, as duas consequentes posturas dos geradores institucionais de informação, não poderíamos nos furtar de retratar também, a postura dos geradores civis da desinformação. É nesse ambiente que nos deparamos, cotidianamente, com os produtores, consumidores e disseminadores de fake news.

Entre os mais variados perfis, há os poucos que agregam algo para você, e os muitos que nos exigem esforço para engolir. Naturalmente, cada um de nós é avesso a determinado perfil. Repito o que já publiquei nesse espaço: sou particularmente avesso ao perfil “lorpa”. Este compartilha notícias sem fontes reconhecidas, e ao ser questionado sobre a autenticidade do conteúdo responde: “não sei, só repassei”.

O perfil “lorpa” não se dá conta de que essa atitude, além de desinformar, configura um desrespeito ao jornalismo profissional que emprega estrutura e recursos humanos para ir a campo buscar a informação relevante, crível e confiável. Tampouco, o “lorpa” se dá conta de estar praticando um crime.

 

Quer receber as notícias no WhatsApp?