“O mundo precisa acordar para a violência de gênero”

Por: Nelson Luiz Pereira

29/11/2021 - 07:11 - Atualizada em: 29/11/2021 - 07:31

Enquanto eu lutava contra a Covid-19, durante aqueles cinco fatídicos dias do mês de julho de 2020, no Hospital São José, li um livro que me marcou muito, e cujo conteúdo me ajudou, sobremaneira, a vencer aquela batalha. A obra, lançada em 2019, intitulada “Que eu Seja a Última,” relata a trágica história de cárcere e luta contra o Estado Islâmico, de Nadia Murad, vencedora do Nobel da Paz de 2018. Obviamente dediquei minha vitória a todas as pessoas que estiveram próximas a mim. Mas também a alguém muito distante que sequer conheço pessoalmente.

É dessas pessoas que transformam o mundo e, por isso, me representa. Um dia apertarei a mão dessa mulher. Nadia Murad, filha de camponeses de uma aldeia Iazidi, nos arredores de Kocho, no Iraque é, para mim, um símbolo e maior personificação de resistência contra a violência de gênero no mundo. Ela é sobrevivente de uma peste humana retratada no machismo, no extremismo, no fanatismo religioso, no obscurantismo, parasita este, hospedado em mentes retrógradas, por todos os lugares do mundo.

Não me canso de escrever sobre violência de gênero, porque vejo medo e conivência na sociedade. Mas o mundo parece estar acordando. De acordo com o Portal Agência Brasil, “a ONU Mulheres começou nesta quinta-feira (25) uma campanha internacional contra a violência de gênero para marcar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Segundo a Organização das Nações Unidas, o Brasil é o quinto na lista de países com mais crimes de gênero.” Para se ter uma ideia do poder maléfico dessa peste, só contraída por homens(?) obtusos, os números de violência doméstica dispararam no mundo durante a pandemia.

Relatório da ONU Mulheres mostra que duas em cada três mulheres relataram sofrer ou conhecer alguém vítima de violência física ou psicológica. Apenas 10% denunciaram as agressões. No Brasil, dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, revelam mais de 100 mil casos de violência desde o início da pandemia. Sinto vergonha e revolta. Tenho dito que, embora alguns elementos, que praticam ou já praticaram qualquer tipo de violência contra mulheres, lerão este artigo, a maioria deles usa o jornal para limpar o que representa sua essência. Jaula aos agressores.