“Fronemofobia (medo do conhecimento)”

Por: Nelson Luiz Pereira

18/04/2022 - 20:04 - Atualizada em: 18/04/2022 - 20:45

Algo que os humanos sobreviventes da pandemia aprenderam muito, foi sobre imunidade do corpo. Em contrapartida, o que continua acometendo muita gente, é a baixa imunidade a doutrinamentos e populismo, cuja consequência tem sido o surgimento de uma infinidade de fobias. Só no campo da sexualidade já se diagnosticou a homofobia, a bifobia, a transfobia, a lesbofobia e, por conseguinte, a heterofobia. E ao final dessa cadeia de fobias aparece a eretofobia, que vem a ser a fobia a todas essas fobias juntas, ou seja, repulsa a tudo que se relaciona a sexo.

Vale registrar que esse rol de fobias afloradas, é próprio de uma sociedade androcêntrica, ainda muito preconceituosa e com alto grau de estupidez. Ultimamente, elas têm alimentado o discurso do ódio entre os fundamentalistas ultraconservadores e os progressistas ultraliberais. Entretanto, outras fobias de caráter cognitivo vêm ganhando terreno. A “fronemofobia,” atribuída a pessoas que tem medo de pensar, é produto da “nomofobia” que é o medo irracional da ausência do celular, ou incontrolável dependência digital.

Por incrível que possa parecer, um colossal contingente da população mundial sofre de fronemofobia. Essas pessoas consomem fake news para desligar o cérebro. Ou seja, as fakes vêm redondinhas, ilustradinhas, temperadinhas, prontinhas para serem engolidas. Pensar, duvidar, questionar, pesquisar e analisar as fontes e os fatos, dá trabalho, dói o cérebro, e corre-se o risco de se deparar com a indesejada verdade. Fronemofóbicos ligam a televisão ou acessam as redes porque livros e pesquisas científicas não desligam o cérebro.

Eles são avessos ao pensamento crítico, porque esse pressupõe conhecimento, e aqui surge uma das verdades indesejadas: o conhecimento é angustiante. Por isso, minha inquietude me levou a uma constatação curiosa: sempre há alguma correlação entre fobias, capaz de desencadear, ou nutrir, outras fobias. O momento de polarização e banalização da mentira pelo qual passa a Nação, corrobora essa descoberta. Vejamos: os fronemofóbicos, por medo do conhecimento, não desafiam, ou não questionam sistemas.

Por serem assim, acabam se enquadrando no que a ciência classifica como “heresifobia,” ou, medo de desafiar doutrinas, sejam elas políticas ou religiosas. Esses, por sua vez, não são, em essência, pessoas livres, e por não serem, sofrem de “eleuterofobia,” ou, medo da liberdade. Em meio a tantas fobias, sinto que minha imunidade anda baixa para a “estupofobia,” que vem a ser o medo de pessoas estúpidas. Posso estar a caminho de ser um estupofóbico.