“Eleições e a cultura da intolerância”

Por: Nelson Luiz Pereira

15/09/2018 - 05:09

A violência explícita que vem sendo ultimamente exibida no palco eleitoral brasileiro, protagonizada pelas extremas esquerda e direita (Marielle e Bolsonaro), tem maculado com sangue a civilidade democrática.

Os gladiadores extremistas capitalizam o cinismo generalizado que o povo nutre por política e o transforma em ‘torcedores’ inflamados por meio da retórica populista. Esses gladiadores bem sabem que traumas herdados pelo ‘discurso da inferioridade latino-americana’, somados à estéril colonização ibérica, moldaram um povo refém do marketing apelativo, capaz de lhe colar o populismo.

Prova disso é perceber cidadãos que até ontem renegavam veementemente política e políticos, e hoje defenderem seus candidatos com sangue nos olhos. A mensagem subliminar que vem sendo transmitida à essa massa de ‘torcedores’ dos dois extremos é: se de um lado resolve-se na bala, de outro tenta-se resolver na faca. O que temos testemunhado nas redes sociais é a personificação dessa mensagem convertida em discurso de ódio. Nada justifica a violência.

Os mais avisados acerca da ciência política sabem que a estratégia do discurso populista encontra eco em sociedades polarizadas e sub politizadas. E no Brasil, essa polarização se acentua a partir de 2014, por conta de fatores como corrupção, Operação Lava Jato, impeachment, crise econômica e, mais recentemente, o acirramento das Fake News.

Se não bastasse o clima de dúvida e indefinição que envolve essa campanha eleitoral, passamos a experimentar um novo fenômeno social. A banalização da mentira associada a transformação do contraditório em inimizade, vem gradativamente incutindo na sociedade a cultura da intolerância. Confesso que reservo diariamente uma hora e meia de meu tempo para avaliar o que rola nas redes sociais.

Circunstancialmente tenho ocupado esse tempo acompanhando, sem me manifestar, as alas extremistas se digladiando em defesa de seus candidatos. Então, tomo um chá de camomila e resisto às ‘tripas’ cacográficas se alongando na tela do smartphone. Penso com meus botões: surrupiaram a dialética; atropelaram o bom senso; assassinaram a tolerância. Se todo esse confronto odioso se convertesse em tiros e facadas, teríamos um holocausto também no Brasil.

Lamentavelmente, nessa batalha insana, os meios de comunicação sérios e profissionais, não constituem fonte para formação de opinião da maioria. Os canais reconhecidos que fornecem a crítica assinada e assumida não são fontes para os ‘torcedores’, pois nessa peleja a verdade e a coerência não se propagam. O eco é de quem fala mais alto.