“E se o Brasil fosse um livro?”

Por: Nelson Luiz Pereira

28/10/2019 - 18:10 - Atualizada em: 28/10/2019 - 18:17

Se o Brasil fosse um livro, hoje seria o dia do Brasil. Mas a verdade é que somos uma nação que pouco lê. Nosso livro morre porque nossas editoras, que ainda sobrevivem, tentam aplicar aqui os mesmos preceitos de mercado de países com bons históricos de alfabetização e cultura letrada.

Se podemos nos orgulhar de ter, de acordo com a UNESCO, uma das 10 maiores Bibliotecas do mundo (Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro), considerada a maior da América Latina, devemos lamentar, paradoxalmente, em exibir, nessa mesma dimensão geográfica, um dos piores índices de leitura. Apesar da tímida melhora verificada nos últimos sete anos, pesquisas recentes apontam que ainda 44% dos brasileiros não leem, e desses, 30% nunca compraram um livro.

Se conjecturarmos que dos 56% que leem, 85% leem pouco, estaremos sendo otimistas em presumir que apenas 15% são ávidos leitores e consumidores de livros. Esta é a nossa triste realidade. Então, se imaginássemos nosso Brasil como sendo um livro, e porventura o abríssemos, o capítulo “cidadania” estaria redigido em mal traçadas linhas. O capítulo “educação” soaria sombrio e inacabado. Já, o capítulo “alienação”, esse sim, seria o mais objetivo, cristalino e conclusivo.

Não se concebe cidadania com acesso limitado à informação e conhecimento. Não se concebe liberdade se a essência desta, repousa na carga de conhecimento que acumulamos, significando que, quanto menos lemos, menos livres somos. Somos uma nação omissa ao livro. Ainda não nos damos conta de que só o livro nos livra. Nos livra do mundo diminuto, do vácuo cultural, da caverna platônica, da servidão dogmática, da miopia política, do viver lacônico, em suma, nos livra do niilismo existencial. Enfim, se o Brasil fosse um livro, seria um amigo enfermo esperando visita.