“Despolitizando a diversidade”

Por: Nelson Luiz Pereira

22/11/2021 - 08:11

O mundo só é mundo porque é diverso. E, em essência, esse mundo só é possível porque está em constante movimento e mutação. Sem essas leis não haveria evolução. Antropologicamente, há mais ou menos 2,4 milhões de anos, nós, humanos, nos desgarramos da linhagem dos Australopitecos e iniciamos um processo de evolução. Esse processo perdurará se não nos aniquilarmos. E julgo que a forma mais eficiente de chegarmos à extinção é, ironicamente, renegarmos essas leis onipresentes em todos os cinco reinos da biodiversidade: animal, vegetal, fungi, protista e monera.

Nós, humanos, ditos sapiens, com todos esses anos de evolução, seguimos resistindo a algo natural e inevitável: a diversidade, que quero trata-la aqui, sob um conceito amplo e não restrita à dimensão sexual. Isto é, entendida como variedade de culturas, crenças, valores, ideias, regras, recursos, circunstâncias, espaços, elementos, práticas, que juntas formam o amálgama da existência. Então vamos ao X da questão: o que me incomoda é esse paradoxo de sermos naturalmente diversos, mas insistirmos em viver sob padronização.

Ou seja, a concepção de ‘diversidade’ está mais para ‘anormalidade’. Sustento que a diversidade encontra seu principal obstáculo na dinâmica cultural com que a sociedade se molda. Nosso modelo homogêneo é regido, dinamizado e estabelecido por padrões como: estética, doutrina, eficiência, uniformidade, conformidade, funcionalidade, racionalidade, entre outros. Convencionou-se daí, que tudo o que se adapta a esses arquétipos, pode-se considerar como aceitável e normal.

Penso que as organizações que não identificarem oportunidades no poder da diversidade, depreciarão seus negócios. O desafio é grande, pois, nossa concepção de sociedade ainda é avessa à pluralidade. Já há estudos comprovando que quem promove equidade de gêneros, raças, pessoas com deficiência, culturas diferentes, são mais produtivos, competitivos, lucrativos e felizes. Estes poucos que estão à frente, entendem a diversidade, desprovidos de preconceitos e de ideologias extremistas, seja de qual lado for, e a reconhecem como evolução da espécie e sua capacidade.

Essa transformação, ainda incipiente por aqui, é perceptível em países mais desenvolvidos. Falta-nos invertermos a perspectiva e percebermos o desigual, como fenômeno socialmente criado por nós, e que não faz o mínimo sentido. Precisamos avançar para um novo paradigma de sociedade livre e justa, com heterogeneidade harmônica. Ainda somos um tanto ‘quadradões.’