“2020: O que esperar?”

Por: Nelson Luiz Pereira

09/12/2019 - 18:12 - Atualizada em: 09/12/2019 - 18:34

Tenho por hábito, a cada final de ano, discorrer sobre essa indagação: O que esperar do ano vindouro? Uma das características que nos faz humanos racionais, é a capacidade de identificar, interpretar e interagir com a realidade a qual estamos inseridos e projetar cenários. Logo, nossa dimensão de mundo é proporcional ao modo como percebemos e absorvemos essa realidade.

Tendemos construir nossa trajetória apoiados, naturalmente, numa expectativa de modelo social que nos proporcione segurança, certeza, objetividade, além de resultados favoráveis, palpáveis e mensuráveis. Portanto, sempre esperamos o melhor. Ocorre que a realidade que nos impacta, favorável ou desfavoravelmente, não é só aquela de natureza palpável e mensurável.

Sustento a ideia de que há um “espaço” imensurável entre ‘realidade’ e ‘possibilidade’, o qual denomino utopia. No entanto, para uns essa utopia não passa de imaginação, ilusão, quimera. Mas para outros, onde me incluo, ela não é simples utopia, mas “utopia construtiva”, ou seja, aquela que move, instiga, impulsiona, entusiasma a ousar, atrever, correr riscos, desafiar a lógica formal estabelecida e, sobretudo, sonhar.

Em tempos de cólera, mesmo que nos pareçamos lunáticos, precisamos aprender a ver além do que nossos olhos retêm. Então, como aficionado quixotiano que sou, procurarei ver 2020, pela perspectiva do clássico fidalgo, que via o famoso elmo de Mambrino enquanto seu fiel escudeiro Sancho Pança via, tão somente, uma bacia de alumínio carregada por um barbeiro. Verei também, pela perspectiva do genial Van Gogh, que revelava nas telas, por meio de suas frenéticas pinceladas, o mundo além de seus olhos mortais. E tantos outros exemplos notórios que eu poderia citar aqui.

Enfim, para 2020, terei um pé na ‘realidade concreta’, realizando boas ações. Mas terei o outro pé na ‘utopia construtiva’, em errante cavalgada com Dom Quixote, procurando “sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável…, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível”.