“Verdade escondida”

Por: Luiz Carlos Prates

03/09/2018 - 09:09 - Atualizada em: 03/09/2018 - 09:56

Uma conversa morna, sem graça, até que alguém no grupo falou em intolerância e referiu-se a um amigo, claro, um amigo ausente. – Pô, ele é muito intolerante…! Mais ou menos isso. A conversa morna esquentou, quase ferveu. Acontece que certos assuntos provocam erupções cutâneas no emocional de pessoas que não convivem bem com determinadas ideias, intolerâncias, por exemplo.

O assunto, num primeiro momento, não me fez piscar os olhos, mas… É assunto interessante, acabei entrando no jogo. O que é intolerância, “seo” Flávio? – perguntei. E antes que alguém respondesse fui enfiando o pé na bola dividida. Intolerância é rejeição, desprezo, menoscabo, raiva a alguém ou a alguma coisa… É o resultado de uma vivência prévia e frustrante.

Frustração é desejo não realizado. O que desejo e não obtenho me provoca uma agressiva reação, ou contra mim mesmo ou contra algo ou alguém por perto. Que fique claro, não existe frustração sem reação agressiva, essa reação bem que pode estar dissimulada, escondida mesmo, mas… ela será vivida. Ou contra a própria pessoa por ações destrutivas, de um modo ou de outro, ou será voltada a algo ou alguém. Sossegada é que não ficará essa frustração, aliás, vêm daí e mais das vezes muitas e muitas doenças humanas.

Mas vamos lá. A intolerância costuma ter uma origem inconsciente, mas o objeto da minha intolerância não é a causa da minha intolerância, é pretexto inconsciente, há outras e verdadeiras razões. E diante disso, faz sentido os velhos mantras budistas que pregam o desapego para que cheguemos mais perto da felicidade.

Quem nada ou muito pouco deseja tem pouco a se frustrar. Desapega-te, dizem os religiosos do bem. Quanto mais desejo e quanto menos obtenho, mais intolerante me torno. É uma espécie de compensação inconsciente, a partir daí qualquer pequena situação vira pretexto para brigas domésticas, para desavenças no trabalho, para atritos, não raro, mortais no trânsito. A intolerância vem das frustrações e as frustrações resultam das nossas fragilidades para termos mais e mais numa sociedade que só nos avalia pelo “ter”, nunca pelo “ser”.

Não tolero isso, não tolero aquilo, mas… no fundo não tolero é a mim mesmo pelo nada que sou, ainda que possa até ter bem mais que a maioria. Quem vive escorado nos desejos nunca está satisfeito, a fome do querer escancara a porta das frustrações e as frustrações nos tornam intolerantes. E assim, nenhum Freud nos salva…

Sinal

Manchete, sinal dos tempos: – “Restaurante proíbe crianças depois das 17 h. para adultos comerem em paz”. É na cidade de Binz, na Alemanha. O restaurante tem o nome (traduzido) de Cozinha da Vovó. Eu imagino as razões: as crianças andam demoníacas, insuportáveis, nada de anjinhos, nada… Mas eu sei, o dono está mais punindo aos pais que as crianças, são eles, os ordinários dos pais, que não prestam. As crianças, pela falta de educação, pagam o pato.

Verdade

Bom, vamos lá. Não existe isso de crianças hiperativas e com déficit de atenção, isso é invenção. O que existe é criança sem vontade para isto ou para aquilo e mal-educada pelos pais. Só isso, a “doença” nunca existiu. Mas também aqui a culpa é dos pais negligentes e falsamente bonzinhos, “modernos”. Criança disciplinada pela boa educação pode ser anjinho, sim. Raríssimas.

Falta dizer

Provérbio persa: – “O ladrão que não é castigado por roubar um ovo roubará um camelo”. Esse provérbio devia estar pendurado em todas as salas da “justiça” brasileira. Aqui, “engomadinhos” inventaram a história de “crime de menor poder ofensivo”. Não na minha delegacia, ah, mas nem a pau, Juvenal…