Medo e vida

Por: Luiz Carlos Prates

20/12/2016 - 08:12 - Atualizada em: 20/12/2016 - 08:44

O sujeito desliga a televisão depois de haver assistido a dois desses programas jornalísticos de fim de tarde, programas policiais. Desliga a TV, dá uma bufada e diz para a mulher: – “Se eu pudesse não sairia mais de casa, dá medo essa vida aí de fora, nas ruas”. Um outro, duas casas adiante, diz o mesmo, mas por outra razão: fica sabendo de um acidente com dois companheiros de trabalho, – “Pô, os caras estavam trabalhando, se acidentaram e morreram, assim não dá! Só não paro de trabalhar porque não tenho recursos financeiros suficientes, vida infeliz”!

Seja pela razão que for, com quem quer que seja, se tomarmos os exemplos do que acontece em torno de nós, ou mesmo diante dos nossos próprios pensamentos turvos, o que o corre na maior parte do tempo, não vamos mais sair da cama pela manhã. Razões para tremer, razões para embalarmos medos de todos os tipos temos o tempo todo, em todos os lugares. E aí vem aquela velha frase do cangaceiro Lampião – “Quem tem medo se enterra vivo”. E ainda esta outra frase antiga que nos deve servir de consolo e estímulo: – “Teu medo não te preserva do destino”. Claro, nesse caso, é preciso acreditar em destino.

Há pessoas que fazem loucuras durante a vida toda e… morrem de velhas e felizes, afinal, fizeram tudo de que gostavam. Claro que deve haver senso, um pouco de juízo ao assumirmos certas posturas, mas que o medo nos traz muito mais prejuízos, sem dúvida.

E o medo é maior nas pessoas inseguras, uma insegurança que resulta de uma certa dose de genética com primeiras experiências de vida, isto é, vida familiar, de onde vêm nossos maiores medos e todos os preconceitos. Talvez tenha sido por isso que Sócrates, e muitos outros antes dele, sentenciou-nos: “Conhece-te a ti mesmo”. Esse conhecer-se a si mesmo nos dá bom alicerce para não fazermos bobagens incompatíveis com o nosso jeito de ser mas também nos pode fazer andar a passos mais firmes para o futuro, sem muitos medos.

Mas que fique claro: a maior parte dos nossos medos nunca se vai realizar, confirmar. E poucos são os remorsos maiores do que, na velhice, olharmos para trás e dizermos: – “Eu devia ter ousado mais, arriscado mais, que vidinha sem graça e sem sal eu vivi, sempre cheio de medos”. Será tarde, irmã!

Razões
Todos nós ardemos por dentro em sentimentos de culpa, por razões, ações, reais ou imaginárias. O que fiz de errado me queima por dentro, o que “imagino” que tenha feito de errado também me abate. E daí resultam os sentimentos de arrependimento que nos levam à vontade inconsciente de pagá-los com sofrimentos e até com a morte. Tudo inconsciente. Esse “tribunal” interno não é de todo ruim… Merecemos.

Falta dizer
Aliás, falta dizer que muito do comportamento errado de jovens na escola, de drogas na vida diária e mesmo de graves delinquências bem que podem ser agressões inconscientes aos pais… que fazem por merecer. Nosso inconsciente é um justiceiro implacável.