Tanto esforço e nada

Por: Luiz Carlos Prates

18/01/2018 - 12:01

Dia destes faleceu um grande jornalista/escritor brasileiro, um sujeito especial, boníssimo, culto, irônico e pessimista… Esse qualificativo, pessimista, era o que dele muitos amigos diziam. Fiquei pensando. E não pude deixar de dar razão ao falecido.

Faz muito tempo que discutimos a vida, todos nós, do grande rebanho humano, fazemos isso. Por desatenta que seja a pessoa, no íntimo ela sente que nasceu para o Nada… A vida é um formidável nada a dar um passo a cada dia para o Nada final, aquele que nos assusta do berço até… até ao último suspiro. A consciência do fim traz-nos a consciência das inutilidades da vida, faça o que você fizer, você um dia… Vamos mudar de rumo na conversa…

O jornalista/escritor falecido tinha uma cabeça formidável, mas era, no dizer de todos os que o liam, ouviam e com ele privavam, um pessimista. Engraçado isso, todas as pessoas cultas, de grande saber que conheci e conheço não são otimistas de almanaque, daqueles afeitos ao positivismo das esquinas. E toda vez que falo disso, lembro do Eclesiastes, meu livro favorito na Bíblia.

No Eclesiastes você “ouve”: – “Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto. Porque na grande sabedoria há grande pesar; e aquele que cresce em saber, cresce em dor”. Mais ou menos isso.

Qual a conclusão dessa verdade, verdade que foi organizada e passada adiante por humanos? Antes de tudo, criar medo nas pessoas, medo do saber… E a consequência mais imediata desse medo é a ignorância que favorece o escravagismo e o desconhecimento das leis do trabalho e da vida, por exemplo. Só que, por outro lado, de fato, saber muito cria-nos desilusões, ficamos mais perto das verdades do Nada. Afinal, para que tantas lutas, por que tantos conflitos, ciúmes, ambições, esforços, renúncias, sacrifícios? Para que tudo isso se o final “da ópera” é conhecido ou intuído pelo ser humano?

Vem dessa verdade o desencanto das pessoas mais cultas, como foi o caso do jornalista/escritor recentemente falecido e de todos os outros, iguais a ele, ricos em conhecimentos e plenos de angústias e sofrimentos… Melhor é não saber? Sem dúvida. Todavia, o preço da ignorância é talvez muito mais aflitivo que o saber que nos leva ao sofrimento diante da grande verdade do Nada final da vida… Melhor é saber? Você decide.

APELIDOS

Quais são os apelidos que costumamos dar às pessoas que se nos afiguram felizes? As que riem fácil, as que parecem viver no mundo da lua, as que nos passam a ideia de nem aí… Pessoas, enfim, que não parecem ser afetadas pelos buracos negros da vida… Costumamos chamá-las de tolas, de burras, de imbecis, de fora da casinha, de tudo que é desprezível… E por que essas pessoas nos irritam? Porque só nós sabemos no ranço em que vivemos, que estamos vivendo, não é mesmo, leitora/or? Ora já se viu, ser feliz!…

NÓS

Detesto quem diz que “o homem foi criado…”. Nenhum homem foi criado por ninguém. O que existe sobre a Terra é seres humanos, homens e mulheres, seres humanos e ponto final. Então, lá vai a pergunta: quantos seres, bichos ou humanos, existem sobre a Terra? Bilhões, bilhões. E quantos mentem? Só um: o bicho humano. Nenhum outro bicho mente. Que vergonha! É por isso que o inferno está lotado…

FALTA DIZER

Vi no Brasil Urgente, da Band, bombeiros socorristas ficarem 40 minutos tentando fazer voltar à vida um jovem afogado. Um trabalho duro, angustiante, de heróis… Quanto valem essas pessoas? Valem beijos e o céu da vida.