Os malas-cheias

Por: Luiz Carlos Prates

09/05/2018 - 12:05 - Atualizada em: 14/05/2018 - 14:15

A família saiu para uma viagem de lazer, pai, mãe, três filhos. Foram a França e viraram Paris de cabeça para baixo… Os amigos pobres que ficaram por aqui queriam saber das novidades na volta dos viajantes. Souberam pouco, enfastiaram-se, isso sim, com muitas fotos, selfies e inúmeras tolices “visuais” que os néscios costumam trazer e guardar. Quando soube dessa história, verdadeira, não me surpreendi. A “brasileirada” é assim, superficial, vazia e, não raro, metida a sebo, … metida ou metidos a sebo, isto é, nada, não são nada, mas pensam que são…

Ao tempo em que ouvia, sem nenhum interesse, a esses relatos de uma viagem sem graça, lembrei dos navegadores da Volvo Ocean Race, a maior competição veleira do mundo. Ouvir os velejadores falar, contar dos desafios, arrepia, não é para qualquer um “metido a sebo”. E numa entrevista desses velejadores, ficamos sabendo que eles, quando param num determinado porto, como o fizeram em Itajaí, ao reiniciar a competição não podem levar nada com eles, nada que tenha sido comprado, como roupas, lembrancinhas, nada.

O peso do barco, o peso dos velejadores, tudo é medido em ínfimos detalhes e influem na navegação e na segurança do barco. Eles precisam cruzar a linha de chegada no porto final sem nada “nos bolsos” senão as lembranças. Fiquei pensando: pobres, infelizes dos que viajam só para tirar fotografias e comprar em outlets, coisas típicas das pessoas vazias, brasileiros no exterior, por exemplo.

De uma viagem só nos deviam restar as memórias, os detalhes, ter o que contar aos amigos e a nós mesmos pelo resto da vida. Mas para ter o que guardar e depois contar é preciso ter olhos de ver e sensibilidade para perceber e apreciar. O que mais acontece é as pessoas voltarem de uma “bela” viagem com muitas fotos e compras de tolices que bem podem ser encontradas por aqui. A viagem dessa gente é para fugir de suas angústias e exibir-se aos amigos que ficaram… Coitados. Coitados dos que foram e voltaram sem nada ver, mas com muitas fotos e malas cheias, cheias de nadas. Já os velejadores terão o que lembrar e muito para contar, suas lembranças serão pelo resto de suas vidas livros de aventuras, de aventuras consumadamente vividas. Se você duvidou, converse, procure ouvir detalhes de Paris a quem foi a Paris… Vão descrever, como a cara deles, a torre Eiffel. Coitados dos malas-cheias.

Chatos

Eles são chatos, desagradáveis, medrosos, neuróticos, desrespeitosos. Quem? Os idiotas que em ônibus-leito viajam com a luzinha da poltrona acesa, incomodando quem está ao lado, na frente e atrás. Toscos puros. Fazem isso também quando as luzes estão apagadas nos voos noturnos. Alguns fingem que estão estudando, lendo. Se estão com tanta vontade de ler ou, mentirosamente estudar, que fiquem em casa, chatos, abobados.

Falta dizer

Estudar um idioma estrangeiro, ler, consultar dicionários, investir em novas palavras na conversação diária, “engraxar” a mente, enfim, alonga a vida, a saúde mental e previne ou retarda em as senilidades patológicas. Quem não pode? Os vadios existenciais.