“Conversas de UTI”

Por: Luiz Carlos Prates

18/09/2018 - 10:09 - Atualizada em: 18/09/2018 - 10:40

Não gosto de conversas de UTI. Conversas de UTI são aquelas que a pessoa faz quando está numa cama de hospital, está consciente, olha para trás e suspira pelos erros cometidos na vida. Suspiros do tipo – Ah, como fui burro, ah, se eu pudesse voltar atrás, ah, quando eu sair daqui, nunca mais vou fazer o que fiz por tanto tempo… E por aí vão os suspiros dos “arrependidos” da vida, mas arrependidos só depois… ah, melhor nem dizer…

Dou estas voltas ao fechar a revista Contigo, leio-a regularmente, quero saber da vida dos “famosos”. Desta feita, fiquei irritado com o que acabei de ler. Claro, entendi a pessoa, mas a frase que ela fez é velha, surrada e típica de quem tropeçou seriamente numa pedra do caminho da vida, mas não entendeu a pedra…

A autora da frase é uma cantora que faz dupla com a irmã dela. Morenas, interessantes… Mas vamos ao que interessa. A moça, ao meio dos shows e shows que fazia, caiu doente, doença séria, grave. Saiu dos palcos, foi se tratar, viu a “Monja” a espreitando e, ao receber alta, fez esta frase: – “A carreira não é mais importante do que a minha vida”.

Ora bolas, ninguém discute que a vida é tudo, mas… insinuar que trabalhar muito faz adoecer e pode matar é altamente discutível. O que mata é fazer alguma coisa só por dinheiro… Aí é que está, queridinha. Fazer só por dinheiro, mata. E mata rápido.

E aqui já vou me despedir da moreninha cantora para abrir o leque a trazer a conversa para você, para nós, enfim. Nenhum trabalho nos esgota ou faz doentes se dele gostarmos. O ritmo do trabalho é entendido e metabolizado pela mente diante do prazer e dos resultados colhidos. É claro que tem que haver resultados, mas os resultados não são necessariamente e sempre financeiros.

O chamado “burnout”, expressão americana para caracterizar a pessoa esgotada pelo trabalho, é típica dos frouxos, dos que sonham em fechar a gaveta do trabalho às primeiras horas da tarde de sexta-feira e sair suspirando pelo fim de semana. Pobres dessas pessoas minguadas. Acham que o trabalho as sufoca, erradas. O que as esmaga são seus enfados existenciais avessos ao trabalho. Coitadas. E culpam o pobre e indefeso trabalho. Infelizes da vida.

Vergonha

Num programa de fofocas de tevê, ouvi esta: – “Fulaninho (um cantorzinho merreca) desmaiou quando tomou banho com sua namorada”. Banho com a namorada? A garota, mostrada na reportagem, é muito jovem, e já está na perdição? Sim, agora é moda, a vergonha sumiu e o descaro tomou conta. Que gentinha. E o que há de pais “ingênuos” que não sabem de nada ou fingem não saber… Ordinários.

 

Cuidado

Num site de jornalismo encontrei um artigo sob este título: – “O jornal impresso está na UTI”? Respondo: Não, não está. O povo fraco, negligente, os desatentos, os que se preocupam com irrelevâncias e perdas de tempo com plataformas digitais, esses sim, esses estão na UTI da cidadania, são os pífios da vida fracassada. Um jornal por dia tira as pessoas da UTI da ignorância e as leva ao saber de tudo um pouco. Formidável riqueza.

 

Falta dizer

Acho interessante quando um prefeito se dispõe a pagar auxílio-refeição de acordo com a frequência dos funcionários ao trabalho. Há muito, muitíssimo absenteísmo no funcionalismo público municipal, estadual e federal pelo país todo. E os motivos? Qualquer espirro ou nem isso… Ou disciplina ou ferro em quem merece. Ferro.