“Aborto – Parte 2”

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Por: Juliana Bizatto

30/04/2020 - 09:04 - Atualizada em: 30/04/2020 - 10:44

Todos nós conhecemos alguém que passou por um aborto, ou até você mesmo passou por essa terrível situação. Na última edição começamos a falar sobre esse assunto amplo que é o aborto, expliquei como é frequente e os principais fatores associados a ele. Hoje vou expor sobre os mitos associados ao aborto, e o que deve ser feito após o diagnóstico.

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Muitos mitos cercam o aborto, e toda avó, avô, vizinha, amiga ou parente distante tem uma justificativa na ponta da língua. Eis aqui situações erroneamente associadas ao aborto, mas que, fique claro, NÃO causam aborto:

  • Vacinação;
  • Hipertensão (pressão alta);
  • Traumas ou acidentes (como quedas ou de carro);
  • Sustos;
  • Cirurgias, mesmo abdominais;
  • Deficiências de vitaminas;
  • Anticoncepcionais;
  • Ultrassom transvaginal;
  • Monitores de computador – mesmo no trabalho e uso intenso;
  • Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP).

Entre as grávidas, 27% apresentam sangramento vaginal, dessas, 43% evolui para aborto. Se a gestante tiver sangramento associado a dor em baixo ventre, então aumenta bastante o risco de abortamento.

Nos casos de sangramento, não há estudos indicando benefício com repouso, mas grande parte dos obstetras acabam orientando mesmo assim para próprio conforto da paciente. O uso da progesterona (nome comercial mais conhecido utrogestan®), ainda que não exista evidência científica forte, possui indicação de ser utilizada em sangramento de 1º trimestre.

A imunoglobulina anti-D deve ser feita em mulheres com tipagem sanguínea negativa e pai da criança com tipagem positiva quando ocorrer sangramento por risco da doença eritroblastose fetal.

Quando a idade gestacional é precoce (menos de 4 semanas) não se consegue visualizar o embrião ou qualquer produto da gestação dentro do útero, entretanto, gestações de 4 a 5 semanas já pode se perceber no ultrassom o saco gestacional (“casinha” do embrião), e com 6 semanas embrião com batimento cardíaco.

Nos casos de gestação muito inicial é o exame de sangue que nos ajuda a dizer se a gravidez está saudável. Esse valor deve ir aumentando gradativamente. Consideramos uma gravidez com ovo cego ou anembrionária quando o saco gestacional mede mais de 20 mm, e não há embrião ou vesícula vitelínica (“comidinha” do embrião). Considera-se aborto quando o embrião tem 5mm (algumas literaturas dizem 7mm) e não há batimento cardíaco.

Às vezes, quando é feito o diagnóstico, já ocorreu um aborto completo, ou seja, não há material intrauterino no ultrassom, pois tudo já foi eliminado. Entretanto, pode ter restado algo, nesses casos pode-se fazer conduta expectante (aguardar expelir o restante) ou fazer o esvaziamento uterino (curetagem, procedimento de “raspagem” do útero, realizado em centro cirúrgico enquanto a paciente está sedada).

Um grande problema após o aborto, muito além da questão emocional da paciente, é risco de infecção dentro do útero, chamado de aborto séptico, que pode levar inclusive à morte da mulher. Por isso, que após o diagnóstico do aborto pode se esperar apenas um tempo (em geral 2 a 3 semanas, com chance de 81% de esvaziar completamente) para que elimine espontaneamente.

Um grande problema de saúde do mundo são os abortos clandestinos que contribuem em muito para acontecer essa infecção grave dentro do útero, além de perfurações uterinas, hemorragias e morte de mulheres.

Quando engravidar novamente?

Tudo vai depender se houve ou não a curetagem. Após a curetagem, ainda que a ovulação pode recomeçar duas semanas após a resolução do aborto, o endométrio (camada mais interna do útero), que foi “raspada”, precisa se recuperar, afinal é ali onde o saco gestacional se “gruda” para poder se desenvolver.

Após o aborto, algumas mulheres apresentam sangramentos variáveis tanto em tempo quanto em quantidade, mas é seguro dizer que você pode engravidar no mês seguinte após o aborto. Por isso, se não deseja engravidar tão cedo, deve iniciar quanto antes métodos anticoncepcionais.

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Referências Bibliográficas: Ginecologia de Williams. 2 edição. 2014. | Aborto recorrente e progestagênios. Febrasgo. 2017. | Aborto – Classificação, diagnóstico e conduta. Febrasgo. 2018.

Dra. Juliana Bizatto

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