Naquela tarde, Roberto decidiu fazer uma visita ao seu velho amigo, Waldemar, para tomar uma cuia de chimarrão e colocar a conversa em dia, afinal, fazia tempo que não se encontrava com o conterrâneo.
Waldemar não demonstrou muita alegria ao rever Roberto e este logo imaginou que tinha alguma coisa perturbando o amigo.
– Coloca uma água pra ferver e vamos conversar um pouco, Waldemar.
– Tá bom, colorado, senta aí e vai preparando a cuia.
– Como vão as coisas, gremista?
– Vamos levando, Roberto, do jeito que Deus quer.
– Só levando? Tu não pareces muito feliz. Aconteceu alguma coisa?
– Não aconteceu nada.
Enquanto Waldemar falava, dava grandes suspiros, que entregava seu desânimo. E Roberto, que conhecia o amigo de longa data, insistia para que ele desabafasse.
– Waldemar, não é de hoje que eu te conheço. Me fala, o que está acontecendo?
– É essa gurizada, Roberto. Às vezes os filhos fazem umas coisas que tu sente aqui, ó. No fundo do peito.
– Poxa, gremista, aconteceu alguma coisa com teu filho?
– Tu nem imagina. Tu nem imagina.
– Bah, mas então me conta de uma vez!
– Vou te dizer uma coisa, colorado, já fazia horas que eu tava de olho no guri.
– O que ele aprontou?
– Eu tava percebendo que ele andava meio diferente, com umas manias estranhas. Eu percebi que ele não era mais o mesmo. Ele não queria mais almoçar e nem jantar em casa. Não saía da casa de um coleguinha da escola, enfim, não estava normal. Eu já suspeitava que ele tava escondendo alguma coisa.
– Poxa, isso é complicado, Waldemar. Mas, você descobriu o que era?
– Então… Esses dias ele deixou o Facebook dele aberto e eu li umas conversas pela metade, dizendo que tinha que diversificar, que quanto mais colorido, melhor…
– Mais colorido? O que tinha que ser mais colorido?
– O prato, Roberto! O prato!
– Como assim, o prato?
– Nem sei como dizer isso. Me envergonha uma coisa dessas.
– Pode me dizer, Waldemar. Estou aqui para te apoiar.
– Roberto, não é que o guri virou vegetariano?
– Como assim? Vegetariano?
– Pois é. Diz que não come mais carne. Só legumes, frutas, verduras e agora cismou que as combinações de comidas têm que ser bem coloridas. Já viu disso?
– Não come mais carne? Então agora ele só come frango? Presunto?
– Nem mesmo um presuntinho. E presunto nem é carne!
– Deve estar difícil para você, meu amigo. Logo você que fazia uma costela especial, no fogo de chão.
– Nem me fala, nem tenho mais coragem de olhar pra minha churrasqueira. Se meu pai não tivesse morto, ele morria de desgosto. Me envergonha uma coisa dessas!