“Onde há vontade há um caminho”

Por: Francisco Hertel Maiochi

08/10/2019 - 18:10 - Atualizada em: 08/10/2019 - 18:24

Dez anos atrás tive a oportunidade de conversar com uma jovem mãe. Ela estava muito preocupada com sua filha que começava a passar pela puberdade, e evitava falar de sexo com a filha, achava que era muito cedo. Não deixaria que saísse, amarraria no pé da cama se precisasse.

Sexo era só depois dos dezoito, e olhe lá. Tinha medo de uma gravidez precoce. Vejam, ela mesma havia engravidado aos 14, e criar a filha nessa idade não tinha sido fácil. Ela não queria que a filha vivesse isso. Perguntei a ela como que a mãe dela havia lhe educado sobre sexo.

Ela respondeu que não educou nada, que não deixava que saísse, que “amarrava no pé da cama” quando precisava. Mas um dia ela teve uma oportunidade, fugiu de casa pela janela, e sem informação nem métodos à mão, engravidou naquela única escapada.

O que ela não percebia é que, com medo que a filha fosse pelo mesmo caminho, ela fazia exatamente igual sua mãe fez, mas esperando um resultado diferente.

A moral da história: “amarrar um adolescente no pé da cama” é uma tarefa quase impossível. De fato, educar para abstinência comprovadamente faz com que adolescentes transem mais cedo e menos protegidos, engravidando mais.

A sexualidade é uma força poderosa, e muitas vezes não temos todo o controle sobre ela que gostaríamos, seja a nossa, a de um filho, ou a de um parceiro.

Vejo pessoas desconfiando dos seus parceiros, fuçando celulares e redes sociais, instalando aplicativos de espionagem, tentando impedir que o parceiro ou parceira encontre amigos, tenha amigos do sexo oposto e por aí vai. Várias tentativas de “amarrar o parceiro no pé da cama”, controlar a sua sexualidade, com medo do que pode acontecer.

Temos medo que, se tiverem oportunidade, vão agir sobre ela. Muitos aceitam viver sob as mesmas limitações que impõe ao outro, basicamente admitindo que também agiriam sobre seu desejo se tivessem oportunidade.

O ciúme do outro é frequentemente reflexo do próprio modo de pensar, e a relação é baseada em desconfiança mútua, forte o suficiente para justificar esse tipo de comportamento invasivo (e talvez ironicamente não o suficiente para só transar com camisinha.

Confia o suficiente para colocar a própria saúde em risco, mas não o suficiente para permitir que o amado se divirta sem sua presença?).

Acredito que assim como com os adolescentes, quem quer, faz. Ninguém é capaz de impedir toda a oportunidade de acontecer. Como na primeira história, nenhuma janela é impossível de abrir. Me parece haver um grande sofrimento numa relação assim, constantemente olhando por cima dos olhos, num jogo de quem está enganando quem.

Derrota um tanto do propósito de termos alguém com quem tenhamos confiança para expressar as coisas que nos são mais íntimas, desejos, medos, pensamentos, de estar juntos sem pudores ou reservas.

Confiar quando se teve a confiança quebrada é difícil. Exige força, coragem, e disposição para se machucar, afinal, estar junto é se expor vulnerável a ser ferido pelo outro. E ser ferido pelo outro é praticamente uma garantia na vida.

Ter confiança no outro no fundo é ter confiança o suficiente em nós mesmos, que aguentamos alguma pancada, e nos erguemos novamente, prontos para a próxima.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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