“Conflitos de valores”

Por: Francisco Hertel Maiochi

06/05/2019 - 15:05 - Atualizada em: 06/05/2019 - 16:31

Quando falamos em sexualidade, as pessoas costumam atribuir a ela diversos valores, frequentemente negativos. Pensem em todas as palavras usadas para ofender uma mulher: verão logo que quase todas tratam da sua sexualidade, e desta sexualidade como negativa – muitas vezes negativa simplesmente pelo fato de existir ou ser expressa.

Já para ofender aos homens, se costuma caracterizar sua sexualidade como inferior, insuficiente, inadequada, ou ainda, atacar a sexualidade de uma mulher associada a este homem, como sua mãe ou esposa.

Já quando conhecemos alguém, muitas vezes ouvimos que sexualidade é uma coisa secundária. Que é mais importante olhar para o que a pessoa tem no “interior” do que na aparência, por exemplo. A sexualidade parece só ser bem vista se ela estiver devidamente ocultada, em segundo plano.

Ainda assim, sendo relegada a um lugar tão baixo na opinião pública, a sexualidade está estampada nas nossas propagandas, nos nossos perfis do Instagram, é desejada, nos programas de domingo na TV, nas capas das revistas, nas festas, nos bares, nas ruas.

A sociedade que a condena é a mesma que a deseja. De algo superficial, passa a ser crucial. É algo secreto, mas público; vulgar, mas sagrado; superficial, mas crucial.

Parece que a sociedade fica um tanto maluca em volta desse tema, não sabe que lugar dar a ele, e nós que crescemos nela ficamos confusos, sem saber se podemos ou não fazer alguma coisa, se é normal desejar isso ou aquilo, se sexo ruim é motivo ou não pra escolher uma pessoa, se querer transar sem compromisso faz bem ou faz mal, ou faz de mim uma coisa ou outra, entre muitas outras dúvidas.

As vezes parece que não sabemos nos decidir que lugar dar para a sexualidade nas nossas vidas. Toda essa confusão gera, em muitos de nós, insegurança. Imaginamos uma “sexualidade normal” que supomos que todo mundo deve ter e, comparando nossa própria vida com este ideal, muitas vezes nos sentimos inadequados.

“O fulano sai com mais mulheres que eu, acho que sou inadequado. A fulana sai com menos homens que eu, devo ser inadequada, o fulano disse que gosta de tal coisa, deve ser um maluco…” e por aí vai. Não temos com quem conversar se temos o medo de revelar o quanto nós é que podemos ser “anormais”.

Isso tudo leva a uma série de problemas. Ao atribuirmos à sexualidade um valor menor, à vivência dela como algo que tira o valor das pessoas, estamos contribuindo com crenças que levam pessoas terem vidas mais infelizes em suas relações, e as expomos a riscos de saúde, como doenças sexualmente transmissíveis, afinal, não é a vivência da sexualidade que expõe a riscos, mas à falta de conhecimento e experiência que nos deixamos expor a situações inseguras.

Uma destas crenças, que vejo no consultório, é a de que sexualidade deveria ser irrelevante numa relação, que não é algo que deveria ser um problema, se as outras coisas estiverem bem. Cada pessoa pode sim ter seus desejos. Pode sim buscar sua satisfação. Pode sim dar valor à sexualidade. Pode sim dar importância quando está insatisfeita.

Sexualidade existe, e impacta nas nossas relações, nas nossas emoções, no nosso sentimento de conexão com um parceiro, na confiança, no sentimento de segurança de ser amado e desejado, e algo assim não se deixa ser ignorado.

Num paradoxo, tentar forçar a sexualidade a um papel secundário, em vez de assumir sua importância, pode gerar um problema maior para o futuro, tal qual uma bola de neve, que vai crescendo na medida que o tempo passa, até que se torne impossível ser parada.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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