“13 lições que a greve dos caminhoneiros deveria ter ensinado ao Brasil”

Por: OCP News Jaraguá do Sul

05/06/2018 - 09:06 - Atualizada em: 05/06/2018 - 15:52

A gente queira ou não, a greve dos caminhoneiros mudou o Brasil. Tanto quanto a ‘revolta de 2013’ (que deixou o PT perplexo), os impeachments – do Collor e da Dilma – e mais do que tudo que aconteceu de ruim e de bom nos últimos dois anos.

De bom? Sim, de muito bom: o país afundava à inflação por conta de todo tipo de irresponsabilidade econômica, da corrupção e do desgoverno do PT.

É inegável que a equipe econômica de Temer botou ordem na casa. É imprevisível o que teria acontecido se ele não tivesse assumido. Daí veio a greve dos caminhoneiros. Vamos tentar tirar dela as seguintes lições:

  1. Um país continental como o nosso não pode ter uma matriz de transportes monomodal – a rodoviária. É uma questão de segurança nacional. A greve poderia nos ensinar que ainda é tempo de construir uma matriz multimodal, com ferrovias e hidrovias. Se não temos dinheiro e/ou competência para isso, temos que atrair investimento e tecnologia internacionais, como, por exemplo, da China, que tem as duas coisas.
  2. Não podemos continuar a tratar a Petrobras como se fosse a latrina do país. A empresa foi “quebrada” (assim como a Eletrobrás e os Correios, entre outras) pelo governo Dilma e vinha se recuperando bem até a greve. Só no dia da demissão do ex-presidente Pedro Parente, que fazia uma administração impecável para recuperação da nossa maior empresa, a Petrobras perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado. Quem vai pagar essa conta?
  3. Aliás, a justificativa “não vamos pagar essa conta” foi a mais utilizada pelos brasileiros – e pela classe média em particular – quando os combustíveis passaram a subir semanalmente. Ou seja, não queremos pagar a conta dos descalabros de gestão e de tudo o que foi roubado da Petrobras durante muitos anos. Sim, se não vamos pagar a conta, quem vai? Vamos chamar os chineses também?
  4. Temos que aprender também que em qualquer situação quem paga a conta somos nós e, principalmente, os mais pobres. O desconto de R$ 0,46 do preço do diesel vai sair do bolso de quem? É do Tesouro Nacional, ou seja, do meu, do seu, do nosso suado dinheirinho dos impostos. Os pobres sofrem mais porque ao pagar a conta do diesel, o governo vai ter que tirar de algum lugar – da manutenção de escolas, postos de saúde, hospitais, da segurança pública, dos programas sociais, e por aí vai. Portanto, precisamos de uma vez por todas parar de nos iludir: quem paga a conta, sempre, somos todos nós.
  5. Será que aprenderemos que a situação chegou onde chegou porque fizemos as escolhas erradas no único momento em que temos realmente o poder na mão – na cabine de votação? Quem foi que votou nas promessas de Dilma (tendo como vice Temer) que levaram o país à bancarrota? (Não adianta dizer que você votou no Aécio – sabe-se lá o que seria pior). O país está revoltado com sua classe política. Vamos ver qual vai ser o tamanho da renovação no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas.
  6. Os três poderes derreteram. Executivo, Legislativo e Judiciário vivem a maior crise de credibilidade da história da República. Porém, a lição que aprendemos, não com a greve dos caminhoneiros, mas com 21 anos de ditadura, é que é ruim com eles, mas muito pior sem eles. Temos que renovar o Executivo e o Legislativo em outubro – e fazer pressão para que o Judiciário volte a se comportar com um mínimo de decência.
  7. Só pede “intervenção militar” quem não tem a menor noção do que isso significa. Porém, a greve dos caminhoneiros – no início apoiada por uma ensandecida e histérica classe média – mostrou o que é ficar sem o direito de ir e vir, a tomada do poder pela violência e o medo que lá pelo quarto dia de greve começou a tomar conta da maioria dos brasileiros. Só apoia uma intervenção – que nem os militares estão a fim de fazer – quem não teve direitos escalpelados por mais de duas décadas – em que era proibido falar mal do governo e até ter livros considerados “subversivos” (como os de Jorge Amado, por exemplo) confiscados, para dizer o menos. O mais é estar com a família em casa à noite, baterem à porta e levarem os pais presos sem qualquer explicação ou mandado judicial. Como jornalista desde 1973, sou testemunha, mas nem por isso devemos aplaudir o terrorismo de esquerda. Violência não é alternativa.
  8. Nossa democracia demonstra que nem sequer adolescente é. A greve fez com que ela voltasse à infância. Continuamos a ser – assim como em várias ocasiões no século passado, principalmente em 1964 – um país em busca de um “salvador”. Um pai dos pobres como foi Getúlio Vargas, um general como Castello Branco (o primeiro da ditadura, que disse que ia convocar eleições em poucos meses, mas foi engolido pela “linha dura” dos quartéis). Lula? Bolsonaro? Mais um populista? Qualquer radicalização, à esquerda ou à direita, vai nos fazer afundar de vez depois de quase uma década perdida. Não faremos reformas – nem a política, nem a da previdência, nem a tributária. Quem vai pagar essa conta? Nossos filhos e netos.
  9. Todo esse cenário desolador, de pós-guerra, provocado pela greve dos caminhoneiros mostrou que continuamos a não ter o menor orgulho da nossa pátria. Somos patriotas? Como, se queremos pôr fogo na nação pensando que se trata de derrubar o governo? Jogamos fora a água da bacia com a criança junto. Falamos mal do Brasil, esquecendo que este país não existe por “geração espontânea”, mas sim porque aqui vivem mais de 200 milhões de brasileiros que constroem um país bom ou ruim a depender das suas atitudes e responsabilidades. Só cantamos o hino e homenageamos a nossa bandeira nos jogos da Seleção – e parece que até isso vai sofrer patrulhamento ideológico na Copa porque gostar do nosso escrete é “alienação”.
  10. Pois quem fala mal do Brasil deve saber que, em vários países de primeiro mundo, muitos já nos apontam como a única nação do mundo que realmente conseguiu “se passar a limpo”. Hoje somos um exemplo de combate à corrupção, doa a quem doer, seja ex-presidente da República ou da Câmara dos Deputados. Ou o próprio presidente da República.
  11. Dizem que brasileiro só aprende quando dói no bolso. Então seguem aqui alguns números da fatura a pagar: a Petrobras perdeu R$ 137 bilhões em 11 dias. Vai ter que recuperar isso. As exportações brasileiras caíram 36% em maio, enquanto que a queda de arrecadação em SC foi de R$ 130 milhões. A Fecomércio informa que 80% das empresas de comércio, serviços e turismo foram afetadas e perderam R$ 350 milhões. E a Fiesc apresenta uma conta de R$ 1,67 bilhão e já pediu capital de giro ao BNDES e Badesc – adivinhe de onde sai esse dinheiro que pode impedir o desemprego daqueles que às duras penas tínhamos conseguido recolocar no mercado de trabalho?
  12. Outra constatação difícil dessa lição é a de que a boa parte de nós apoiou a greve dos caminhoneiros na intenção de ver o preço da gasolina baixar. O diesel pode até baixar os R$ 0,46 concedidos pelo governo. Mas não se iluda: a gasolina não vai baixar – é só ler no noticiário o que dizem os donos de postos. Mais um tiro no pé.
  13. É claro que deixei por último, de propósito, o número cabalístico do partido que comandou o país desde 2003. Essa é a principal lição: não adianta botar a culpa no PT. A culpa é de quem votou em falsas promessas e na propaganda enganosa. Que, aliás, estão grassando novamente, tanto à esquerda como à direita. São radicais que prometem consertar o país do dia para a noite, sem fazer reformas estruturais. Na vida real, as coisas não funcionam assim e só construiremos um país justo e desenvolvido à base de muito trabalho, sacrifício e fé: não se faz omelete sem quebrar os ovos.