“Líderes tímidos e introvertidos”

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Por: Emílio Da Silva Neto

10/06/2019 - 11:06 - Atualizada em: 28/09/2019 - 11:49

Muitos acham que o modelo ideal de comportamento é ser extrovertido. Também, o senso comum no meio corporativo e entre os empresários é de que, para ser um bom líder, é necessário ser falante, extrovertido e sempre pronto para agir. Mas isso não é bem verdade.

Bill Gates, Beyoncé, Michael Jackson, Gandhi e J. K. Rowling, por exemplo, são alguns introvertidos famosos, que fizeram coisas incríveis, justamente por causa de seu temperamento quieto, e não apesar dele.

No livro ‘O poder dos quietos’(1), a autora Susan Cain estimula a se ver os introvertidos de uma forma diferente, reforçando a ideia de que nada há de errado em ser mais reservado, muito pelo contrário. Defende, inclusive, que a introversão não é falha de personalidade e sim, em muitos casos, uma vantagem, pois os quietos possuem verdadeiros superpoderes, tais como:

  • conseguem se concentrar por longos períodos de tempo
  • são ótimos ouvintes
  • emitem opiniões só quando têm algo realmente importante a dizer
  • formam laços estreitos de amizade

Segundo a autora, o mundo precisa aproveitar mais o talento dos ‘quietos’, havendo, para tal, muitas maneiras de “fazer o jeito quieto falar mais alto”.

Em Empresas Feitas para Vencer(2), Jim Collins defende algo parecido, quando descreve o Líder Nível 5: “humildade, força de vontade e determinação. Um indivíduo que, na crise, olha no espelho e, no sucesso, olha pela janela. Seguramente, não é um popstar do mundo corporativo.

Em geral, o grande público não os conhece, exatamente porque não costumam estar muito preocupados com suas biografias. Quase sempre deixam a ambição pessoal de lado em nome do projeto que lideram, com visões mais daqueles que autenticamente desejam construir um legado”.

A Liderança Nível 5 é do tipo que “prefere escutar diversos pontos de vista antes de tomar as decisões e valorizar a tarefa de cada membro da equipe. Reconhecem as pessoas com quem trabalham e evitam falar de si próprios, utilizando mais os exemplos das demais pessoas do time”.

Ou seja, líderes introvertidos dialogam menos com a fala e mais com o silêncio e a escuta, são sensatos, ponderam bem o cenário todo e não saem pelos corredores batendo no peito, dizendo “deixem comigo, eu resolvo”.

São pessoas reflexivas, capazes de enxergar um quadro mais amplo e de ouvir com atenção seus interlocutores. Ao final, ao invés de tomarem a ação para si, empoderam sua equipe a agir, a seguir em frente com as soluções que vislumbraram juntos. Por este motivo, líderes com este perfil são bons formadores de pessoas.

Enfim, para liderar, não é preciso ser um craque ao microfone, ser dotado de uma retórica capaz de arrebatar muita gente e nem dominar os diferentes canais de comunicação.

É lógico que comunicar-se será sempre importante. Mas, os líderes introvertidos o fazem sem se desviar da sua essência, do seu estilo, sendo prazeroso vê-los em ação, quando se comunicam, pois adotam comportamentos cativantes como:

  1. não fingem, não tentam ser quem não são
  2. se preparam mais, por não se sentirem confortáveis com o desafio de falar em público
  3. são breves e objetivos, por sua timidez

No final das contas, é muito bom ter um líder tímido e introvertido, pois estar com alguém que age como é, e não como acha que os outros acreditam que ele deva ser, aumenta a transparência, o empoderamento da equipe e, pela autenticidade, aproxima mentes e corações.

(1): CAIN, Susan. O poder dos quietos. Rio de Janeiro: Sextante, 2017
(2): COLLINS, Jim. Empresas Feitas para Vencer. Barueri: HSM, 2013