“Economia vacinada: os efeitos colaterais de uma epidemia”

Por: Informações jurídicas

06/03/2020 - 11:03

Atualmente estamos passando por dias de tensão com a epidemia do novo coronavírus, cujos impactos transcendem o campo da biologia/anatomia humana, refletindo também na economia global.

Não é a primeira vez que isso acontece. Historicamente, a economia mundial já foi afetada inúmeras vezes por epidemias que causaram a queda das bolsas de valores, barreiras econômicas, oscilação das moedas, corte de relações comerciais, entre outras consequências.

Epidemias como a ebola em 2013, a gripe suína em 2009 e a gripe aviária no final dos anos 90 marcaram o período em que se alastraram com graves consequências econômicas. Estas epidemias mostraram que o impacto na economia vai muito além dos valores investidos para combatê-las.

Desde o anúncio do novo coronavírus, as bolsas da China continental vêm apresentando recuo diário recorde nos últimos 5 anos. Ocorre que os impactos não ficam apenas no epicentro da doença. Aos poucos, os efeitos econômicos vão chegando aos outros continentes, começando pelas regiões que mantem relações comerciais com os países afetados.

As principais bolsas mundiais apresentam quedas em massa, registrando perdas históricas, assim como foi visto na bolsa de Tóquio em 2014 quando o vírus ebola aterrorizava o continente africano.

Enquanto os países produtores deixam de embarcar as mercadorias, os consumidores administram a escassez dos produtos com origem nas regiões afetadas. Ocorre que a administração tem um limite e os produtos “made in China” podem começar a faltar nas prateleiras nos próximos meses, diante dos congestionamentos registrados nos portos chineses.

Recentemente, a Itália ganhou destaque nos noticiários, com a confirmação de vários casos do novo coronavírus, principalmente em regiões que representam 40% do PIB da Itália. Diante disso, países que confirmam casos de doenças epidêmicas também acabam sendo cortados de roteiros turísticos, afastando a injeção de recursos na economia local. No caso da Itália, em que o turismo representa 6% do PIB, a perda é significativa.

Na última semana o que os brasileiros mais temiam aconteceu, o vírus chegou ao Brasil, tendo os primeiros casos confirmados na cidade de São Paulo. A reação foi imediata. O dólar disparou, o euro atingiu a marca de R$ 5,00 pela primeira vez na história e a Ibovespa opera em queda. São os efeitos iniciais da chegada de um vírus, que com o passar das semanas deve se acalmar e a economia retomar a estabilidade.

Em breve, em julho/2020, ocorrerão as olimpíadas no Japão, o que já causa preocupação aos organizadores e participantes, em razão de o continente asiático ser o “berço” do novo coronavírus. Em 2016 vivemos algo parecido, porém em proporção muito menor, quando entidades de saúde sugeriram o adiamento das Olimpíadas do Rio de Janeiro em razão do surto do zika vírus.

A pergunta que fica é: a economia mundial está pronta para combater uma epidemia? O G20 financeiro diz que sim! Em reunião realizada no final de fevereiro, um comunicado oficial do grupo afirma estarem “prontos para tomar medidas adicionais para lidar com esses riscos”.

Nas últimas três décadas, o mundo passou por várias epidemias causando substanciais impactos econômicos, mas entre perdas e ganhos, a economia mundial conseguiu se manter estável com a adoção de medidas emergenciais nos países mais afetados, como redução da taxa de reserva compulsória, liberação de valores em fundos de longo prazo e cortes de taxas de empréstimo.

Embora a insegurança ainda seja grande, a história nos mostra que a economia está vacinada contra epidemias e mais uma vez deverá sair ilesa.

Artigo elaborado pelo advogado João Paulo Schlögl, inscrito na OAB/SC sob nº 43.728, graduado em Direito pela Universidade Regional de Blumenau – FURB e pós-graduado em Direito Empresarial e Tributário pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação – INPG. Atua na área de Direito Tributário da Mattos, Mayer, Dalcanale & Advogados Associados.