“Já que estamos em clima de Páscoa, que tal falarmos sobre o cacau?”

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Por: Caroline Pappiani

16/04/2019 - 06:04

A celebração da morte e ressurreição de Cristo é um momento de reflexão para os cristãos sobre o significado da vida e do sacrifício. Contudo, qual é a relação entre essa celebração de caráter religioso com o hábito de se presentear as pessoas com ovos de chocolate?

O ovo é um símbolo antigo que representa a fertilidade e o renascimento. Séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos era um costume de celebração pelo fim do inverno e o início da primavera.

Quando a Páscoa cristã começou a ser celebrada, essa cultura de festejar a primavera foi integrada na Semana Santa e os cristãos passaram a ver o ovo como um símbolo da ressurreição de Cristo.

Por ser uma data festiva, era comum pintar os ovos de galinha vazios na Páscoa. O incremento com chocolate veio da França. Os franceses recheavam os ovos com chocolate e pintavam por fora. A partir do final do século XIX, com a tecnologia mais avançada, os ovos feitos totalmente de chocolate se espalharam pelos continentes e são utilizados até hoje.

Abordando o cacau e suas propriedades

Após essa simplista explicação da relação entre Páscoa e chocolate, vamos abordar um pouco sobre o cacau e suas propriedades.

Não é de hoje que o cacau é considerado um alimento funcional. Inúmeros estudos já mostraram suas propriedades, em virtude do seu conteúdo rico em polifenóis (taninos e flavonoides). Essas substâncias são antioxidantes, combatendo a formação de radicais livres e protegendo as células contra danos oxidativos.

Além disso, os polifenóis têm atividade cardioprotetora, melhorando as funções endoteliais e diminuindo a agregação plaquetária (formação de coágulos). Existem estudos demonstrando também efeitos anti-inflamatórios das substâncias presentes no cacau.

Então, pensando em todos esses benefícios, qualquer chocolate é indicado?

Na verdade, não! Em virtude de reações químicas, a adição do leite pode causar redução da biodisponibilidade dos polifenóis, ou seja, reduz o aproveitamento dessas substâncias e a ocorrência dos seus efeitos benéficos. Por isso, os nutricionistas acabam indicando o consumo de chocolates que tenham um percentual de cacau maior ou igual a 70%.

A quantidade de polifenóis no cacau pode variar até mesmo de acordo com a origem geográfica desse produto, a variedade da planta, o clima, o tipo de solo e a região de plantio (fatores agronômicos e ambientais). Além disso, as etapas do processamento do cacau até ser transformado em chocolate também podem influenciar o teor de polifenóis do produto final.

Além de todos esses benefícios, o cacau contém também proteínas, cálcio, ferro e fibras. Muitas pessoas reclamam do sabor amargo dos chocolates ricos em cacau, no entanto, o problema real é a quantidade de açúcar adicionado nos chocolates comuns.

Reeducação do paladar

Desde a infância, as crianças ficam habituadas com esse paladar adocicado e passam a rejeitar o que seja diferente (amargo e azedo, por exemplo). Portanto, o mais adequado seria reeducar esse paladar e acostumar com os sabores “verdadeiros” dos alimentos, como café, chá ou sucos sem adoçar. Dessa forma, você consegue distinguir os sabores das frutas, do café e das folhas utilizadas nos chás.

Que tal desvincular-se dos açúcares e saber utilizá-los apenas quando se faz necessário? Isso já seria um grande passo para a sua saúde e reeducação alimentar.

Mas, não esqueça que a Páscoa é um momento de celebrar com a família, de trocar boas energias, risadas e bate-papo. É também uma data de memória afetiva, ou seja, um momento pontual do ano. Por isso, se você estiver com vontade de desfrutar aquele chocolate que você ganhava na infância, seja ele extremamente doce ou não, faça isso, sem medo. Afinal, a Páscoa é um feriado, não é mesmo? É uma exceção, e não um hábito ou rotina alimentar.