“Fazendo as pazes”

Imagem divulgação Unsplash

Por: Andreia Chiavini

26/03/2022 - 07:03

Conheci o método Pilates em 2005, quando ele era ainda um visitante pouco conhecido no Brasil. Até então eu acreditava ser uma sala similar àquelas que vemos em filme de tortura. Pouco me encantava e muito menos me fazia pensar que o movimento podia curar.

Minha formação em fisioterapia e em reeducação postural me condicionava a trabalhar com outra visão. Jovem, eu pensava que o meu corpo fazia parte do meu ser e era indissolúvel. A rotina de trabalho começou a mostrar outra realidade me forçando a tomar uma atitude. Recém-formada precisava me agarrar na oportunidade que eu estava tendo com meu primeiro emprego, mas as dores nas costas estavam me impedindo de permanecer horas em pé.

Fui fazer Pilates e entender que tortura não era aquela sala e sim o que eu fazia com o meu corpo. Comecei a conhecer músculos que só via em livros durante a faculdade, entendi o que significa centro de força, contração, alinhamento, mobilização, consciência corporal e a conhecer o meu corpo. Fazia tudo isso e ainda precisava respirar. Às vezes me dava vontade de rir, mas era de desespero quando via minhas pernas e braços tremendo e sem nenhuma força durante a execução do exercício.

Mas eu sobrevivi e revivi, pois, percebi que o Pilates me fez mudar a maneira de pensar o corpo e mudar meus conceitos como profissional. Fui estudar e continuo estudando diariamente o método Pilates, tanto na prática como na teoria e sei que o corpo não é inalterável, ele se desagrega de forma independente, e nos deixa na mão sem aceitar nossos comandos. Ele se revolta e fica teimoso, demora para responder os estímulos, ficamos crocantes e tudo range. A pele se solta e muda seu aspecto, os músculos não nos obedecem e um docinho a mais na sobremesa vira 2 quilos na balança. É praticamente a emancipação tardia.

Nesses 17 anos praticando Pilates (entre idas e vindas) e trabalhando com o Método, no auge dos meus quase 44 anos, há algum tempo percebo que o corpo sempre esteve a minha disposição, eu que muitas vezes não estava a serviço dele. O Pilates proporciona as pazes com o organismo, devolvendo o domínio e o comando da situação. Eu e o meu corpo nos conhecemos profundamente, e toda vez que alguma estrutura grita por socorro, eu sei ouvi-lo. E tenho a convicção que a constância é que faz a diferença.

Quando me perguntam por que eu faço, eu pergunto, porque vocês não fazem? O movimento cura, transforma nossa mente, nos conecta com a nossa essência e nos concede a vida. É um encontro de você com você mesmo, buscando algo que vai muito além do desejo de ser admirado. O pilates resgatou o amor entre mim e o que eu trago aqui dentro E podem apostar, tudo depende do profissional que está ensinando a técnica, porque pilates não é tudo igual… Mas este é um assunto para uma próxima coluna.