Jornada de debates – Fake News X True News – o valor do jornal

Mesa JD 2018, Marcos Campos

Por: Pelo Estado

28/05/2018 - 11:05 - Atualizada em: 28/05/2018 - 11:12

O fenômeno das fake news não é novidade. Notícias falsas, por má fé, ou erradas, pela ausência de uma verificação, já causaram toda ordem de problemas para pessoas, empresas, poderes, entidades e instituições. Tampouco é um privilégio do Brasil ou do momento que vivemos. Acontecem a todo momento ao redor do mundo, seja com maior ou menor potencial de causar prejuízos.

O que tem gerado uma percepção diferente são a multiplicidade dos assuntos transformados em notícias falsas e rapidez com que são reproduzidas e compartilhadas, algo que está diretamente relacionado com o acesso às tecnologias de comunicação, a cada dia com mais velocidade e melhor qualidade.

O assunto foi colocado em pauta durante a Jornada de Debates Fake News x True News – o valor do jornal, XII Workshop de Integração da Associação de Diários do Interior (ADI-SC), agora com o reforço do SCPortais. Realizado na quinta-feira (24), na sede da Federação das Indústrias, em Florianópolis, o evento teve a participação de aproximadamente 200 pessoas, em sua maioria jornalistas, editores e diretores dos veículos integrados à rede ADI-SC/SCP, profissionais de comunicação de outros veículos e de outros segmentos, assessores parlamentares, advogados e estudantes de diferentes áreas.

O interesse demonstrado prova a atualidade do tema e a necessidade de debate para a correção de rumos, uma vez que, de modo geral, todos temos responsabilidade no momento de escolher compartilhar ou não um conteúdo cuja veracidade não se pode garantir.

A Jornada de Debates, realizada com o apoio da ACI, da Fiesc e da Celesc, reuniu também autoridades. A mesa de abertura foi composta (E-D) pelo deputado Gabriel Ribeiro, representando a Assembleia Legislativa, o presidente da ADI-SC, Ámer Felix Ribeiro, o presidente da Fiesc, Glauco José Côrte, o governador Eduardo Pinho Moreira, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC), desembargador Ricardo Roesler, o presidente da Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Ademir Arnon, e o presidente da ADI-Brasil, Jedaías Belga.

O encontro foi conduzido pelo jornalista Marcelo Lula e contou ainda com a presença de outras autoridades e lideranças, a exemplo do secretário de Estado da Comunicação, Gonzalo Pereira, do ex-secretário da pasta, João Debiasi, do primeiro vice-presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, dos deputados Esperidião Amin, federal, e João Amin, estadual, do diretor Administrativo do BRDE, Renato de Mello Vianna, do presidente do Sindicato das Agências de Propaganda (Sinapro-SC), Pedro Cherem, do presidente do Grupo RIC, Marcello Petrelli, do presidente da Adjori-SC, Miguel Gobbi, e do presidente do Grupo NSC, Mário Neves.

Todos os diretores da ADI-SC também participaram do workshop. Além de Ribeiro, os vice-presidentes Adriano Kalil (de Gestão e Finanças), Claudinei Roberton da Silva (de Expansão), Marcelo Janssen (de Novas Mídias), Rolando Christian Coelho (da Regional Leste), Dercio Rosa (da Regional Oeste), Lenoíres da Silva (presidente Institucional), e os conselheiros Quirino Loeser e Décio Alves.

“Para reverter este quadro é preciso ter o público como foco”

A palestra principal da Jornada de Debates Fake News X True News, promovida pela ADI-SC, coube ao jornalista e professor William Waack. Graduado pela USP em Ciências Políticas, e em Sociologia e Comunicação pela Universidade de Mainz (Alemanha), também é mestre em Relações Internacionais. Tem quatro livros publicados e por duas conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo. Passou pelas redações do Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Estado de São Paulo, Veja, TV  Cultura e Globo. Hoje atua como webjornalista no Estadão.

William Waack JD 2018, por Marcos Campos

William Waack lançou mão da própria experiência para tratar do tema fake news. Afirmou que a produção de notícias falsas não é novidade e que se trata de uma narrativa política. Ou seja, não é só uma questão de verificar se a informação é falsa ou verdadeira, mas de perceber, antes disso, as fake news como uma interpretação da realidade conforme a opinião de cada pessoa. Se fake news não novidade, por que virou novidade? Por que isso tem preocupado tanto? Questionou para logo em seguida dar a resposta:

“A questão está na confiança que as pessoas atribuem às instituições e instâncias até agora reconhecidas como guardiãs da verdade objetiva dos fatos. Antes as pessoas diziam é ‘verdade, porque foi publicado em tal veículo e eu confio’. Hoje, olham para o que era uma instância de reputação, mesmo que não concordassem com a opinião editorial desses veículos, e se sentem desamparadas. Não atribuem mais o mesmo respeito e confiança que atribuíam antes. Este é o ponto central das fake news”, descreveu.

E isso não é resultado apenas das tecnologias da era digital, que até ampliam a dimensão do que circula como notícia, mas em grande parte é reflexo da deterioração da confiança que as pessoas atribuem ao funcionamento das democracias representativas liberais. “Isso, sim, é um fenômeno da nossa época. O descrédito, o desencanto e o desalento são comuns às sociedades e afetam instituições, inclusive a imprensa.” O principal ativo dos grupos de comunicação, a credibilidade, agora é visto sob um olhar contestador e com muitas ressalvas.

O cenário piora pela associação à crise de funcionamento do sistema político brasileiro, cria um caldo de cultura perigoso que tem como ponto de fundo a perda de referências e, em consequência, a perda da leitura da realidade por parte de agentes políticos, grupos econômicos, empresas de comunicação.

“Veículos de imprensa deixaram de ser influenciadores das redes sociais e se tornaram reféns das redes sociais. Para reverter este quadro e recuperar a condição de referência na sociedade, os veículos de comunicação  precisam ser transparentes e ter o público como foco.”

Já durante o debate, ao ser questionado sobre o peso das fake news na definição de voto, disse acreditar que a influência será muito menor do que o projetado. “Não será o foco. Não vai decidir a eleição.  O que vai definir será a capacidade deste ou daquele grupo de conseguir uma narrativa que saia de grupos restritos para alcançar outras tribos.” Ele observou que a incapacidade de conexão entre os grupos criou um clima muito mais que polarizado. “Estamos divididos, sem contato com outros grupos. Isso caracteriza uma crise estrutural.”

Desafio

Para Ámer Felix Ribeiro, o assunto é polêmico e um desafio a ser enfrentado com as armas tradicionais do Jornalismo – boa apuração e independência para a conquista da credibilidade. Essa preocupação justifica o esforço da entidade para, anualmente, realizar eventos que contribuam para a capacitação dos profissionais e a qualificação dos veículos da rede ADI-SC/SCPortais. O presidente da ADI Brasil, Jedaías Belga, elogiou o evento e afirmou que a sobrevivência do diário impresso, local ou regional,  depende dessa garantia de credibilidade, que aos poucos é reconhecida também nos espaços digitais dos jornais tradicionais.

Mudanças

Depois de classificar o ano de 2018 como extremamente importante e de falar da oportunidade que o Brasil tem para uma mudança efetiva, o governador Pinho Moreira disse que os profissionais da imprensa “terão um papel vital no bem informar, em levar a notícia verdadeira” na cobertura das eleições. Ele disse que fez questão de participar do evento porque lê os diários do interior e que é por meio destes veículos que tem uma melhor visão do que acontece nas cidades catarinenses. “Já somos o melhor estado em vários indicadores. Somos e continuaremos sendo o melhor estado em veículos de comunicação exatamente pela força dos jornais do interior.”

Eduardo Moreira, JD 2018, por Marcos Campos

Campanha

Empresas e entidades que representam os jornais catarinenses (ADI-SC, Adjori-SC, Grupo RIC e Grupo NSC) aproveitaram a Jornada de Debates, com o subtema O Valor do Jornal , para lançar uma campanha de fortalecimento e valorização do meio jornal. O presidente do Grupo RIC, Marcello Petrelli, disse que a união de todos em torno do meio jornal, seja impresso ou digital, torna a campanha emblemática. “É uma campanha inédita no país, o que mostra a nossa visão de responsabilidade e a nossa consciência sobre o papel da imprensa. É uma quebra de paradigmas em favor da sociedade catarinense.”

Surpresa

O presidente da Fiesc, Glauco José Côrte, fez  a primeira palestra do workshop e declarou que, digitais ou impressos, os  jornais são as principais alternativas ao grande público para separar fake de true. “Temos o exemplo das eleições nos Estados Unidos, que foi dominada pelas informações falsas. São novos desafios decorrentes da transformação tecnológica em curso.” Côrte foi surpreendido com uma homenagem feita pela ADI-SC em reconhecimento pelo trabalho que desenvolve à frente da entidade e agradecimento pelo apoio que sempre dedicou à imprensa de um modo geral e aos veículos do interior, especificamente.

Pioneiro

Presidente do TRE-SC, o desembargador Ricardo Roesler destacou o pioneirismo do Tribunal ao criar, a exemplo do que fez o TSE, uma instância que está estudando o assunto fake news e seus impactos a fim de dar suporte aos juízes eleitorais na análise de denúncias e tomadas de decisão. Ele deixou claro que, havendo a denúncia, o TRE-SC não admitirá a prática detratora, dentro ou fora do período eleitoral. Para coibir a prática em si e eliminar a sensação de impunidade, foram feitas parcerias com a polícia – Militar, Civil e Federal – e outras organizações de investigação. “Não podemos negar a importância das redes sociais, desde que tratadas com responsabilidade.”

Checagem

“Fake News Global e o Jornalismo Hiperlocal” foi o tema da palestra do jornalista e colunista político Rafael Martini. “Checagem de informação é premissa básica do Jornalismo. Qual é a fonte da informação? Se isso não estiver claro, é possível que seja fake news”, ensinou Martini. Para ele, o jornalista precisa estar na rua, buscando informações e confirmando ou não o que foi repassado por fontes ou assessores de fontes. Sobre o jornalismo hiperlocal, Martini tratou como “o grande diferencial” pelo ritmo de publicação, com informações que a população busca devido a sua proximidade, e profissionais conhecidos localmente. “É a marca dos jornais tradicionais.”

Diferentes

Os jornalistas Alexandre Gonçalves e Marcelo Lula foram painelistas na abordagem do professor de Mestrado de Jornalismo da UFSC Rogério Christofoletti sobre “Fake News como Desafio para a Indústria Jornalística”. Em sua avaliação, os veículos sediados no interior têm alternativas de diferenciação: apostar no hiperlocalismo, com o enfrentamento dos problemas locais em conjunto; parcerias entre empresas e comunidade; ações para desenvolvimento local; projetos de leitura crítica nas escolas; debates públicos; campanhas de valorização do seu produto, destacando a credibilidade e o profissionalismo. “É preciso enfrentar as fake news, especialmente as relacionadas à política.”

Novo foco

Marcelo Janssen JD 2018, por Marcos Campos

O diretor da Rede OCP, Marcelo Janssen, fez uma apresentação das “Oportunidades da Mídia Regional” e compôs uma mesa com representantes da ADI-SC, Adriano Kalil; do Notisul, Janiffer Souza; e do Grupo Verde Vale de Comunicação, Marcos Santos, que falaram das mudanças rumo ao digital. “No OCP, não somos mais um jornal impresso com um digital. Somos um jornal digital com um impresso”, disse Janssen. Voltando ao localismo, Kalil lembrou que os assuntos globais podem ser lidos em qualquer lugar. “Mas os da minha cidade, só no jornal regional.” Por isso a ADI lançou o SC Portais, um agregador de conteúdo de todas as regionais em um único lugar.