Andréa Leonora | Senai aplica R$ 3 bi nas 25 principais rotas tecnológicas do país

Por: Pelo Estado

19/03/2018 - 16:03 - Atualizada em: 19/03/2018 - 16:28

O diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, esteve na semana passada em Santa Catarina para a inauguração do Instituto da Indústria Robson Braga de Andrade, em Florianópolis. A estrutura é parte de uma rede nacional que está sendo implantada pela entidade com vistas à elevação do nível tecnológico e de inovação da indústria brasileira. A Federação das Indústrias (Fiesc) e suas casas, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SC) e Serviço Social da Indústria (SESI-SC), imprimiram o DNA catarinense em cada detalhe do processo que colocou em operação o Centro de Inovação SESI em Tecnologias para a Saúde e o Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados, instalados no Instituto de Inovação da Capital, e os centros de Inovação em Sistemas de Manufatura, em Joinville, e de Tecnologia em Logística, em Itajaí. Na solenidade de inauguração, o presidente da Fiesc, Glauco José Côrte, que defende a educação e a inovação como condições primeiras para ampliar a competitividade da indústria nacional, teve seu papel reconhecido na formação da rede tanto por Lucchesi quanto pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, por sua vez homenageado com seu nome associado ao do Instituto. Na matéria abaixo, destacamos alguns trechos da entrevista de Lucchesi.

Sobre Glauco Côrte, presidente da Fiesc Rafael Lucchesi – O presidente Glauco, além de presidente da Federação, é vice-presidente da CNI e dirige a área de Competitividade Industrial. A liderança dele nos dá inspiração e norte para muito do que está se concretizando nesse macro projeto. Muito do que a CNI fala hoje com relação à indústria 4.0 vem do trabalho e da liderança do presidente Glauco em dialogar com as tendências do mundo e mostrar o quanto isso é importante.

A motivação

Este é um macro projeto, nascido em 2011. Seguramente o Brasil teve um revés em toda a transformação da indústria 3.0. Se nós pegarmos onde estávamos em 1980 e onde a China estava em 1980 e, passados 40 anos, os movimentos brasileiro e chinês que os sistemas de manufatura tiveram, vamos verificar que o Brasil não ocupou o espaço potencial que poderia ocupar. O desequilíbrio da balança de pagamentos externos no início dos anos 1980 e depois o longo período buscando a estabilização econômica, estabeleceram uma hierarquia da política macro econômica se sobrepondo a política industrial e tecnológica. Isso custou à sociedade brasileira a perda de uma agenda dominante que levaria a uma plataforma moderna de manufatura.

Oportunidade ou ameaça

Entre 1930 e 1980 o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, por força de uma agenda de manufatura, nos quase 40 anos depois nós crescemos a metade dos países desenvolvidos. Ou seja, o fosso se ampliou para o Brasil. Agora nós temos uma segunda grande oportunidade, ou ameaça, que é a indústria 4.0. Muito vai se transformar nas principais cadeias de valor. Temos o enorme desafio de cumprir uma dupla agenda: avançar muito na transformação 3.0, da manufatura enxuta (lean manufacturing), e, simultaneamente, nos posicionarmos nos novos eixos que serão vencedores.

Inovação tecnológica x empregos

Há um certo equívoco acreditar que as transformações tecnológicas são destruidoras de empregos. Ela destrói empregos, é verdade. E destrói empresas. Mas aquelas que estão aferradas ao passado. Desde a Revolução Industrial inglesa há uma transformação no mundo do trabalho e isso não cerceou os níveis de emprego, por vezes quase pleno emprego, mesmo com os choques tecnológicos ao longo da história.

O projeto

O que está se apresentando aqui é um dos pontos focais, da melhor qualidade, do maior projeto de infraestrutura para inovação da indústria brasileira. E não somos nós que dizemos isso. Há um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que revela uma enorme pulverização da rede de laboratórios existentes no Brasil. Um laboratório médio brasileiro significa a necessidade R$ 2 milhões de equipamentos e quatro doutores, muito distante do mundo empresarial. O Senai tem uma cultura empresarial porque ele é governado pela indústria. Nós estamos cumprindo um projeto de R$ 3 bilhões nas 25 principais rotas tecnológicas da indústria brasileira, sendo três em Santa Catarina. O Brasil tem grupos de pesquisa na área de laser que estão entre os melhores do mundo. Mas aonde está o desenvolvimento tecnológico? Em Joinville. Aplicações e testes que geram um aprendizado decisivo em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) que transborda. O fato de o veículo autônomo subaquático mundial da Shell estar sendo desenvolvido no Instituto de Manufatura do Senai de Salvador (BA) gera muitas outras possibilidades de a partir do domínio tecnológico. O dono do equipamento será a empresa, as fica a competência única de pessoas que vão continuar trabalhando, pesquisando, desenvolvendo. Pessoas que vão poder protagonizar outras criações baseadas em inteligência. E essa é a grande transformação que o Senai está promovendo, dentro do espírito de servir à indústria.

Missão

Temos Serviço em nossos nomes. Estamos prontos para servir à indústria naquilo que tem de mais importante, que são as competências essenciais baseadas em inovações. Tanto Senai quanto SESI. O grande desafio quando falamos no SESI é trabalhar atento a uma tendência mundial. O mundo todo investe na melhoria do ambiente de trabalho, que se torna cada vez mais seguro. Só que a gente não pode criar uma lógica antiempresarial. E muitas das ações que hoje vicejam no Brasil formam um conjunto desconexo de regulações que criam uma enorme punição para a geração de riqueza e empregos. Uma das nossas razões é ajudar a sociedade a ter um regramento jurídico mais lógico.

Saúde e segurança

No Brasil a legislação proíbe que as empresas façam gestão de saúde e segurança. Outra coisa: há um paradigma científico no mundo, que demonstra, por várias pesquisas, que o trabalho ajuda na recuperação das pessoas, sejam doentes ou acidentadas. Só que a sociedade brasileira, ou algumas instituições, trabalha com o conceito de que o trabalho adoece. E com isso nós temos um custo dramático! O Brasil tem hoje um estoque de 2,5 milhões de pessoas afastadas do mundo do trabalho. São 120 mil pessoas afastadas por ano e só 15 mil reabilitadas. A nossa ineficiência é a maior do mundo. Além de isso não ser algo tolerável do ponto de vista da exclusão social, não temos mais uma demografia favorável. Temos que adotar o conceito de correção cidadã, mas também de lógica econômica e de produtividade. Tanto no sistema educacional quanto no sistema de saú- de: não podemos perder nenhum.

Ética e cidadania

Existe um custo implícito no país que tem as maiores taxas de reprovação e de evasão do sistema educacional público do mundo. Estamos falando do Brasil. E ainda temos uma baixíssima qualidade nessa área. Tudo isso está conectado. Na agenda de saúde e segurança, temos que ter um conceito ético, cidadão, mas que abrigue também a lógica da produtividade no trabalho para que se reduzam os tempos de afastamentos ou o afastamento perene. Porque o custo disso é de R$ 80 bilhões por ano, dois terços do orçamento do Ministério da Educação! Seguramente, há um enorme desperdício e má gestão nisso.

Parcerias

Nós temos, na área do Senai, parceria com duas instituições de classe mundial. São os institutos Fraunhofer, da Alemanha, a melhor experiência do mundo de apoio à capacidade inovativa da indústria, e o MIT (Massachusetts Institute of Technology), de Boston (EUA), que tem um papel disruptivo em inovação. As empresas criadas no MIT somam o PIB brasileiro. É uma faculdade. Uma instituição de ensino superior que nasce no século 19 para fazer o extensionismo tecnológico agrícola. Semelhante ao que fazemos. O Senai é a maior instituição profissional do Brasil e uma das maiores do mundo, mas sempre na lógica de servir à indústria. Então, é também a maior rede de laboratórios e o maior sistema de apoio à capacidade inovativa da indústria brasileira, ainda mais agora, com o projeto dos institutos em rede.

Educação

Nós temos problemas graves, mas há avanços, como a Reforma do Ensino Médio. Tínhamos um grande problema na matriz educacional brasileira, que era o Ensino Médio único e com uma lógica academicista. Mas, no Brasil, só 18% dos jovens vão para a universidade. Mais de 80% não vão! No Europa, entre 40% e 45% vão para a universidade e mais de 50% fazem educação profissional e técnica. É muito importante que o sistema educacional brasileiro dê identidade social para todos e não só para aqueles que vão para Ensino Superior. Essa identidade social pode ser formada já no Ensino Médio. O Brasil tem hoje 12% de desemprego. Entre os jovens esse índice chega a 30%. E quem são esses jovens? Nos testes da Prova Brasil, 98% não dominam as competências matemáticas necessárias e 75% não dominam as competências de linguagem. Pessoas com baixa qualidade de formação, sem profissão, que acabam excluídas do mundo do trabalho.