Autor de live sobre assalto em Criciúma relata os momentos de tensão

Por: OCP News Criciúma

04/12/2020 - 18:12 - Atualizada em: 04/12/2020 - 18:19

O assalto registrado na madrugada da última terça-feira, na agência do Banco do Brasil (BB), em Criciúma, foi, em parte, transmitido ao vivo.

Quando recebeu a informação, até então do atentado contra o quartel da Polícia Militar de Criciúma, Tcharlles Fernandes, do site Melhores Publicações, saiu de casa, no bairro Quarta Linha, para conferir, in loco, algo que já seria afrontoso e histórico na segurança pública de Criciúma.

Ele, além dos reféns rendidos (trabalhadores que pintavam a via e dois motociclistas) e moradores do entorno da agência bancária, foram os que mais ficaram próximos dos integrantes da quadrilha que sitiou a cidade, tornando-se ainda um atentado de proporções históricas e o maior roubo ocorrido em Santa Catarina.

A live, de pouco mais de 50 minutos, estava, na tarde desta sexta-feira, com quase 700 mil visualizações, de diversas localidades, até do exterior, 13 mil reações e 6,6 mil compartilhamentos. A live ainda rendeu memes (um seguidor disse que pagaria se o pacote de internet expirasse), como também muitas mensagens de preocupação devido ao risco exposto

Galeria dos memes da live:

“Por conta da experiência, de conhecer outros casos no Brasil de roubo a banco, na hora imaginei que era uma ação orquestrada, já me troquei e sai de casa, sabendo que aquilo teria uma evolução”, lembra.

Já no caminho para a ocorrência inicial, no bairro Morro Estevão ele recebeu a informação de que na região central da cidade muitos disparos estavam sendo ouvidos, foi quando então resolveu ir diretamente ao local. Para registrar o que, naquele momento, amedrontava parte da população que ouvia o barulho, mas ainda não sabia do que se tratava, Tcharlles encontrou, na live, a melhor maneira de transmitir o que estava ocorrendo.

Relato

“No bairro São Luiz acessei a página e já resolvi fazer a live. Eu estava recebendo muitas mensagens na página de gente perguntado o que estava acontecendo. Então pensei, vou ligar a câmera e filmar até onde eu conseguir. Não imaginava que era tudo aquilo que aconteceu. Quando eu estacionei na atinga Prefeitura, de cara ouvi bomba, muitos disparos de metralhadora e percebi que era gravíssimo, muito mais preparado do que poderia se imaginar. Onde eu estava, consegui ver os caras, a movimentação deles, a forma que se portavam, e nas adjacências consegui ouvir inúmeros disparos. Não consegui ficar ali, pois não tinha segurança, eu ficava muito exposto, porque passavam muitos carros. Então eu contornei e fui para a rua Araranguá. Lá, eu consegui ter uma angulação melhor deles, pela rua João Pessoa. Eles estavam em frente a Locativa onde consegui ver, acompanhar e passar o medo, porque senti um pouco, mas é normal, é uma ação que jamais se tinha visto. Cada bomba que estourava, o chão tremia. Então como passavam muitos carros, não sabia se eram bandidos, olheiros ou algo do tipo. Eu fiz a transmissão para tentar levar ao mundo o que estava acontecendo em Criciúma. Em época de fake news, a verdade precisa ser mostrada em todo o momento. Meu objetivo era de alertar, principalmente a população da área central de Criciúma que caso, eventualmente, pensasse em ir para a janela, sair à sacada, na rua, que não fosse, pois era um roubo de verdade, não era uma espécie de treinamento, não era nada nesse sentido. Era um assalto que poderia gerar prejuízos irreparáveis às pessoas, até com mortes. O objetivo da live também foi de alerta”, relata.

No momento da transmissão, um morador desceu e ficou ao lado acompanhando. O homem ofereceu abrigo e ele então continuou a transmissão da sacada de um dos prédios.

Face do crime

Trabalhando há seis anos na cobertura da segurança pública da região, Tcharlles disse que a live também foi uma oportunidade de mostrar aos seus seguidores a real face do crime.

“Mostrar que de fato o crime mata, fere e aterroriza. Que não é brincadeira, que é algo sério e as pessoas pensam que nunca pode chegar algo semelhante até nós, e chegou”, acrescentou.

Tcharlles acredita que os bandidos que estavam armados não chegaram a vê-lo, mas que supõe que olheiros sim, pois um mesmo veículo passou por ele ao menos por três vezes.

“Ameaça”

Durante a transmissão, ele chegou a receber mensagens de um “seguidor” passando-se por assaltante, o qual acredita realmente ter ligação à quadrilha e que, inclusive, chegaram mensagens em seu telefone particular, via WhatsApp, alguns “avisos”. Foi quando, momentaneamente, resolveu parar então a live.

Fotos: Reprodução

Indagado se faria (live) de novo, em uma ação desta amplitude, ele foi enfático.

“Faria sim. Apesar de parecer ser louco, insano, penso que, quando existir a oportunidade de mostrar a verdade, e eu puder estar no local, eu vou, vou tentar mostrar os fatos como eles são, sem manipulação, sem restrições”.

Tcharlles concedeu entrevista ontem ao Fantástico, que irá ao ar neste domingo / Foto: Arquivo Pessoal

Investimento na segurança pública

Testemunha ocular da ação, Tcharlles ainda reconcluiu do episódio a necessidade de mais investimento na segurança pública do estado.

“É a minha resposta sobre o que acho que precisa ser feito a partir desse roubo, mais do que nunca. Investimento real. Não adianta acontecer para depois vir o melhor armamento, o melhor treinamento. A gente precisa se precaver antes que aconteça. Para que, se eventualmente acontecer, que os policiais estejam preparados e não venham eventualmente a ter o risco efetivo de perder a vida por conta de uma ineficiência do estado. Esse acontecimento trágico em Criciúma faz com que a segurança precise de uma atenção imediata. A polícia está sucateada, muitos policiais trabalhando com o colete balístico vencido, sem munição suficiente para um enfrentamento daquele tipo, enfim, diversos fatores que fazem com que tenha acontecido esse roubo, que não aconteceu por acaso, foi por diversos fatores e um deles, e a meu ver o principal, foi a falta de investimento do estado na segurança pública. Se o estado proporcionasse mais condições aos policiais, talvez o desfecho teria sido outro”, acredita.

 

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